sexta-feira, outubro 28, 2011

Aprés Moi, Le Deluge



I, oh, must go on standing
You can't break that which isn't yours
I, oh, must go on standing
I'm not my own, it's not my choice
Be afraid of the lame
They'll inherit your legs
Be afraid of the old
They'll inherit your souls
Be afraid of the cold
They'll inherit your blood
Apres moi, le deluge
After me comes the flood



O Pavlov Explica

Estímulo
Resposta
Ausência de Estímulo
Ausência de Resposta 
Extinção
Estímulo Semelhante
Reaparecimento da Resposta
Generalização
Extinção da Resposta Perante o Estímulo Semelhante
Discriminação
Primeiro Estímulo
Reaparecimento da Resposta
O Estímulo Não Interessa e Será Encaminhado para o Caixote do Lixo
E a Resposta Desaparecerá
Fim da História.

Potsdam, 2010



De muitos aniversários vive o meu blogue e este podia servir para celebrar imensas coisas.


Há um ano estava num comboio a atravessar uma floresta escura, num país desconhecido e com uma língua completamente incompreensível. Lembro-me de sentir um misto de desconfiança e de adrenalina. O iPod ficou sem bateria e tive de seguir no comboio a ouvir o som das carruagens e a voz de uma senhora que indicava as paragens em alemão. Quase não se viam luzes do lado de fora da janela e não percebia bem para onde saiam as pessoas porque achava sempre que as paragens eram no meio da floresta. Estava um frio de rachar, porém, não o suficiente para gelar a água dos muitos lagos que vi antes da aterragem nos arredores de Berlim. Apenas gelava os dedos das mãos, mas por alguma razão, isso sabia-me bem. 


Estava a desligar-me do mundo que deixei em Lisboa, estava cansado de trabalhar e de pensar demasiado nas "coisas" nos últimos dias. Estava um pouco mais leve, mas não não era a leveza dos dias de Verão. Era algo diferente que não consegui decifrar.  


Tinha à minha espera o calor e o conforto de um abraço de infância que agora sabe ainda melhor. 


E tinha, mais uma vez, 
toda a liberdade do mundo



domingo, outubro 23, 2011

500 Days Of Summer


É oficial, o Verão já rumou para outras paragens e despediu-se, como deve de ser, no fim-de-semana. Assim fica tudo arrumadinho no sítio certo. 

Chegou a altura do frio e da chuva, dos casacos quentes, dos cachecóis, dos chás e dos finais de tarde sentados no sofá a ver um filme debaixo de uma manta. O mais provável será não conseguir ver filme algum e adormecer no meio das almofadas antes de sequer saber o nome das personagens, mas isso também faz parte. 

Tenho andado arreliado com os invernos desta cidade e é com certa cautela que recebo este que já está a enfiar as malas pela porta dentro. É preciso certificar-me que este limpa os pés no tapete antes de entrar e que não alaga qualquer divisão da minha casa. 

Venha daí, mas com o devido respeitinho. 

Estou aqui de braços abertos e com bolachinhas e cházinho quente para a recepção. A banda sonora está bem escolhida e algo me diz que desta vez, vamos ficar os melhores amigos sazonais do mundo.


Freezing Boy in Cap and Scarf

                                                                                                            © Randy Faris/Corbis

Menina da Lua





"E essa música, eu ouvi a primeira vez, separei, e depois ouvi de novo... e de novo... eu chorava quando ouvia a música e não entendia porquê, que raiva! 


Porque é que eu estava chorando? 


Daí eu me lembrei de uma entrevista que eu vi da minha mãe, eu vejo muito pouca coisa da minha mãe (...) mas essa entrevista me marcou muito porque nessa entrevista ela falava de mim. E era ela emocionada, depois da pergunta 'O que é que ela queria p'ra mim" (...). 


Ela respondeu, chorando, que não sabia o que ela queria para mim. Que o que era bom para ela poderia não ser bom para mim. 


Mas que ela queria que eu fosse leve. 


Que eu não fosse pesada nunca, 
que eu fosse leve."




Girl swinging

Girl swinging on a rope swing hanging from crescent moon
© Eastnine Inc./Corbis

An Asshole Playing With Matches


She was lying on the floor and counting stretch marks
She hadn't been a virgin and he hadn't been a god
So she named the baby Elvis
To make up for the royalty he lacked

And from then on it was turpentine and patches
From then on it was cold Campbell's from the can
And, they were just two jerks playing with matches
Cause that's all they knew how to play

And it was raining cats and dogs out side of her window
And she knew they were destined to become sacred road kill on the way
And she was listening to the sound of heavens shaking
Thinking about puddles, puddles and mistakes

And from then on it was turpentine and patches
From then on it was cold, cold, cold Campbell's from the can
They were just two jerks playing with matches
Cause that's all they knew how to play

Elvis never could carry a tune
She thought about this irony as she stared back at the moon
She was tracing the years with her fingers on her skin
Saying why don't I begin again
With turpentine and patches
With cold, cold Campbell's from the can
After all I'm still a jerk playing with matches
It's just that he's not around to play along
I'm still an ass hole playing with candles
Blowing out my wishes blowing out my dreams
Just sitting here and trying to decypher what's written in Braille upon my skin...

sábado, outubro 22, 2011

Feira da Ladra

Há qualquer coisa de mágico na Feira da Ladra. Mesmo com o nome a apelar uma forma pouco lícita de angariação de produtos, não há necessidade para receios. Num lugar onde as roupas em 2ª (ou 3ª!?) mão se fundem com antiguidades, parece-me a espaços, estar a viajar para tempos que só conheço da televisão e de ouvir falar pelos mais antigos. Os tempos em que toda a família se juntava à volta da rádio para ouvir as notícias, os tempos em que as crianças brincavam ao pião no meio da rua, os tempos em que se ouvia música apenas com o som de uma guitarra. Os azulejos portugueses que dizem pertencer ao século XVII, os castiçais torneados, os baús de madeiras antigas, tudo a apelar à continuação da viagem pela história do nosso país. De onde terão vindo os artefactos, não se sabe ao certo. Mas aí reside grande parte da magia.

Mas há também espaço para os cd's e dvd's de filmes actuais, gravados de formas pouco legais, que nos traz de volta à realidade.

quinta-feira, outubro 20, 2011

Ready... Set... FLYYYYYYYY!

Peões e automobilistas da cidade de Lisboa, acautelem-se. O Pedro começou a aquecer os asfaltos da cidade com a sua nova PIAGGIO FLYYYYYYYYYYYYYYYYYYYY! É azulinha, lindinha e fresquinha, pronta para ir para todo o lado, cair e esfolar-se! Quer dizer, a ideia seria acabar o mês ainda com um aspecto de mota saída do stand, mas tendo em conta a experiência existente, ou seja, nenhuma, já fico contente se o balanço for apenas umas raspadelas. Não é com orgulho que admito a minha azelhice na estrada, mas sempre posso compensar com a minha postura exemplar em cima do bicho. É que fico mesmo bem em cima da Fly, sei lá. Saí do stand com 5 km contados, terminei o dia com 47 km. Estou entusiasmado, é verdade, mas muitos destes quilómetros foram... hum... como dizer isto sem embaraço... por engano. É que desconheço todos os mistérios dos sinais de trânsito de Lisboa e quando dou por mim, já avancei demasiado e não posso voltar atrás. Vai daí, aproveito para passear pela cidade e ir aprendendo com a tentativa e erro.


Ontem saí do Estádio José Alvalade e queria ir para o Campo Mártires da Pátria. O caminho mais rápido é este:




E a linha a preto foi o percurso feito:



Adoro a minha desorientação. Enquanto não chegar atrasado a nada e não atropelar ninguém, está tudo bem! Mais novidades aos 715 km!

sexta-feira, outubro 14, 2011

E Foi Assim Que Aconteceu...


Resolvi esperar algum tempo até falar de mais uma das minhas peripécias, não fosse ter arrependido de me ter metido nela. É oficial, eu apareço no novo videoclip do David Guetta. São cenas que acontecem, sei lá. Quando dou por mim já estou a bater palmas na televisão, pendurado no tecto do Coliseu de Lisboa ou a dançar na praia com o DJ mais famoso do mundo. 


E lá fui eu para a Fonte da Telha, essa praia maravilhosa, a ver no que aquilo ia dar. Havia comida, águas e sol. Eram logo à partida boas razões para faltar ao trabalho nesse dia. Levei as roupitas que nos pediram, mas ao chegar jogaram-me para as mãos um conjunto deles que já me tinham imposto uns dias antes. Uns calções beges, uma manga cava (Medo! Nunca se sabe o que pode sair quando se veste uma manga cava) e, felizmente, uma camisa aos quadrados por cima. Quase tudo bem. Quase tudo até o momento em que alguma aderecista entendeu que eu ficaria fabuloso com um chapéu. Mas não era um chapéu qualquer! Era um daqueles que exige uma certa personalidade. Daqueles chapéus que falam por si. Daqueles que jamais me apanhariam com um cabeça. Começava aí o meu receio que a coisa descambasse. Adiante. Chamaram-me para pentear e pôr aquelas coisas na cara e confesso que depois de ver o meu cabelo todo penteadinho, passei a gostar do chapéu.


Um videoclip do David Guetta não exige grandes dotes de actor ou bailarino. Basta mandar os bracinhos para o ar e saltar de felicidade. E assim foi, take after take. Não há muito a dizer sobre isto. Ponto. No entanto, por alguma razão, eles tinham achado que eu era um dos melhores exemplares de rapaz americano que lá havia. Vai daí, passo a ter um pouco mais de protagonismo. Fiquei lá para a frente em diversos momentos das filmagens. Entre o ego preenchido e o pânico simultâneo, lá continuei a abanar os bracinhos no ar. Era para isso que me pagavam. Lá pelo meio pensei "E se eu deixasse o chapéu voar acidentalmente com o vento e uma rajada me devolvesse a rebeldia dos meus caracóis?" E lá me consegui ver livre do adereço embaraçoso. C'alívio! 


 Tudo muito bonito, os americanos, brasileiros, asiáticos e africanos todos misturados e aos abraços pouco higiénicos, até que resolveram filmar pares multiculturais. Uma câmara, duas pessoas. Uma asiática e eu. A Sushy. Sim, ela tem nome de comida japonesa. E já estou farto de escrever frases com 3 palavras seguidas de um ponto final. Parou. Ponto de Exclamação! 


Dançámos com o mar por trás e um pôr-do-sol fabuloso mas foi estranho. Não encontro outra palavra por isso fica mesmo o estranho. Mas vá, foi tudo giro. 


Porém, os meus receios de parecer um totó, de ter um close-up de chapéu na cabeça ou de ser apanhado a dançar de maneiras constrangedoras foram pulverizados. O vídeo foi lançado e eu tenho direito a 4 momentos de milésimos de segundos que marcam a minha estreia televisiva (aceitável) por esse mundo fora. Minuto 2'29, foi quando me lembrei, no calor da coisa, de me ver livre do chapéu. Sem o deixar ao sabor do vento. Depois disto já posso ir para as manhãs do Goucha rolar as mãozinhas na hora do "Roda Você". E não é que eu apareço logo aqui na imagem parada do vídeo? Aplausos!





sábado, outubro 08, 2011

Índios da Meia-Praia (e da Bela Vista)


Que eu já estou habituado a meter-me em tudo o que são "cenas", já se sabe. Mas quando se trata de repetir "cenas" que não tenham corrido bem anteriormente pode parecer parvoíce. Mas em tempo de crise não se rejeitam oportunidades de trabalho, vai daí, voltei à escola. O "probleminha" não está propriamente no voltar para a escola, mas sim em ir para uma num Bairro Social de Lisboa com crianças que no primeiro dia conseguiram proferir mais palavrões em 45 minutos do que eu na minha vida toda, e quem me conhece sabe bem que tenho de lavar a boca todas as (poucas) vezes que digo "Cocó", hunf! São pequenos índios que mandam no pedaço, felizmente ainda não se lembraram de trazer as flechas, até agora ficaram-se pelas pedras. Na minha altura, quando eu era um ser aborrecido de 1,4 metros, brincávamos aos tazos, agora brinca-se aos apedrejamentos, deve ser alguma coisa que viram na televisão. Podia ter-lhes dado para os vampirismos, mas isso é tão 2009 e há-que acompanhar as tendências. Nunca as profissões de Professor ou Pastor estiveram tão próximas, passo a vida a contar cabeças e falta sempre alguma ovelha a faltar. E é encontrá-las espalhadas pela escola, umas a descer escorregas, outras a apanhar lagartas das couves, outras simplesmente a passear pelo bonito espaço que é a Escola e quem sabe, assistir a algum tiroteio das redondezas, como me vieram alguns alunos contar um dia destes durante um intervalo. 


O menino não quer fazer a aula, tudo bem. 


O menino quer partilhar com o mundo os palavrões que aprendeu, mesmo que não saiba contar até 10, tudo bem. 


O menino quer decidir as regras do jogo, tudo bem. 


Desde que ao final do dia eu chegue a casa com os orgãos todos no sítio e sem tiros dentro de mim, "tá-se bem"! Aos poucos começo a domar algumas criaturas, mas subitamente, sou mais psicólogo do que professor, não foi para isso que estudei, mas sempre tive um Eduardo Sá dentro de mim e felizmente ele está a querer sair. Tal como os sonhos que me vão atormentando à noite. Hoje voltei a sonhar com a escola quando eu só queria era sonhar com o Rio de Janeiro, Praga, as Ilhas Gregas, Tailândia ou Paris. Quanta injustiça! 




 Foto:© Lindsay Hebberd/CORBIS