terça-feira, agosto 27, 2013

"Olinda estás à janela, com a tua linguinha à lua, não me vou daqui embora sem levar uma melga tua"

Fui à casa de banho. Como sempre, a primeira coisa que faço, é olhar pela janela para contar o número de Olindas na parede em frente. Diz-se por aí que é um dos melhores spots de Lisboa para se apanhar mosquitos. Eu acho lindamente elas se esparramarem na parede da frente e não nas paredes da minha casa, não que elas me assustem particularmente, mas porque para fungagá da bicharada, já basta o que elas fazem naquela parede e caso elas passem a fronteira, a Sé tornar-se-ia num cenário de guerra em dois segundos. Mas sendo as Olindas o mais próximo de animal de estimação que posso ter, ainda gasto alguns minutos de vez em quando a olhar para elas como se estivesse a assistir a um documentário da National Geographic. E hoje apercebi-me de duas coisas maravilhosas: uma, é que a Olinda mãe procriou; a outra é que assisti a uma emboscada que terminou com um mosquito na barriga da Olinda mãe. E esta foi a maior emoção que tive nos últimos dias.

Obrigado e adeus.

quarta-feira, agosto 07, 2013

"É P´ró Menino e P´rá Menina"


O anúncio do OLX e a sua musiquinha tornou-se mais viral e irritantezinho do que o famoso anúncio do "Venha ao Pingo Doce de Janeiro a Janeirooooo" e dou por mim inúmeras vezes a cantarolar o "É p'ró menino e p'ra menina" para infortúnio de quem me rodeia. É incontrolável. É para mim o "Gangnam Style" da publicidade, podemos até não gostar, mas infiltra-se nas nossas mentes para todo o sempre. 
O que é um facto é que funciona para o que interessa, ou seja, fez-me utilizar o site para procurar algo que eu desejava há algum tempo: um iPod clássico.
Pifei o anterior nem sei como, não caíu ao chão (tirando há muitos meses, quando caíu da mota em andamento e mesmo assim sobreviveu), não se molhou como o telemóvel, nem foi roubado como a lambreta. Foi mesmo de morte súbita e não lhe cheguei a fazer autópsia. Devido à crise que assola a minha carteira, decidi pesquisar no site do OLX à espera de encontrar algum igual ao antecessor, apesar de duvidar muito de compras em 2ª mão, especialmente de tecnologias. Afinal de contas, como saberemos se está realmente em condições? E se estão todos bons, porque encontramos vários a diferentes preços? Mas gastar cerca de 260 euros num iPod Clássico de 160 gigas estava fora de questão. Claro que não precisava de tanta memória, mas a Apple vai deixando de produzir os modelos anteriores e vemo-nos obrigados a comprar o que há. Ipods nanos estavam fora de questão, "once you go black..." e os com ecrã táctil aborrecem-me porque sou daquelas pessoas que gostam de carregar nos botões sem ter de olhar para o ecrã, e com essa tecnologia, se o fizer, entro em pastas labirínticas que nem sabiam que existiam no ipod ou no telemóvel. Sou um conservador. Pois bem, após alguns dias de pesquisas e negociações, encontrei um que me parecia viável e combinei a compra. O ponto de encontro era a Estação do Rossio. Era fácil, eu entregava o dinheiro, o Ricardo entregava-me a mercadoria. Por momentos, não sabia se estava num blind date ou a viver uma experiência à Sara Norte. No momento da troca, preparei-me para ter de correr atrás do rapaz, não fosse ele entregar-me um iPod de plástico do chinês. Mas não foi preciso, enquanto eu verificava a operacionalidade do iPod, o Ricardo contava o dinheiro. E foi assim que ocorreu a transação, sem ninguém precisar correr, chamar a polícia ou esfaquear o outro. Fiquei um pouco surpreendido ao aperceber-me que não sou o único disléxico a nível musical. Encontrei a história toda da "Alice no País das Maravilhas" de Carrol Lewis lida em inglês, música clássica representada pelo Tchaikovsky, The Beatles, Ella Fitzgerald, Norah Jones, Florence + The Machine, Lisa Ekdahl, Rachel Yamagata, Carminho... e depois coisas como Michel Teló, Psy, Backstreet Boys, Barbra Streisand e Céline Dion. Acreditando que o iPod pertenceu realmente ao Ricardo como ele diz, gostaria de ter tido a oportunidade de lhe elogiar o (algum) bom gosto musical, mas vá, quem puser o meu iPod no aleatório também vai encontrar bimbices iguais ou piores, há-que assumir.
O que é um facto é que o negócio valeu a pena. O iPod está impecável, com menos riscos do que qualquer um dos meus anteriores após uma semana de utilização e custou-me menos de metade do valor de loja.
E fui para casa feliz a ouvir o "Gangnam Style", porque eu lá no fundo, e às vezes à superfície, tenho um apelo por brejeirices.

Três dias depois, encontrei o Ricardo no metro e tive a oportunidade de lhe agradecer. Mas já sem Céline Dion na playlist.



sexta-feira, agosto 02, 2013

La Cage Dorée


Já passou um ano desde a minha última ida ao cinema. Não que eu não goste, mas porque é algo que eu sou incapaz de fazer. Passo a explicar: herdei do Avô Zeca e da Julianinha a incapacidade de me manter acordado mais de 5 minutos sempre que me sento num sofá. Mas ontem foi diferente. Estava bastante entusiasmado com "A Gaiola Dourada" pelas mais variadas razões. É um filme passado em Paris, aquela cidade pela qual me apaixonei, perdoem-me o cliché, no ano passado quando a visitei pela primeira e até agora, única vez. É filme sobre portugueses e com portugueses. É um filme que apela aos sentimentos que nos são familiares, às nossas raízes, ao fado, à saudade. Não tendo a dimensão internacional do emigrante português em França, consigo rever-me um pouco nessa mescla de sentimentos, afinal de contas, estou fisicamente distante da terra que me viu nascer e daqueles que me são queridos. Eram mais do que ingredientes necessários para me fazer querer estar no primeiro dia de exibição do filme. E assim foi.
E apesar da expectativa já ser elevada à priori, o filme conseguiu surpreender-me ainda mais do que aquilo que eu esperava. A fotografia está maravilhosa, os cenários estão soberbos, os planos geniais. Quem preste atenção aos pormenores vai conseguir encontrar a portugalidade a cada cena que passa. Desde o jornal "A Bola", a cerveja Sagres, um retrado da Amália sobre a cama, o assento com bolinhas de madeira no banco do carro, entre muitos outros. 
Quem vê o filme pensa que não podiam ter sido escolhidos melhores atores para as personagens. Parece que foi escrito de propósito para eles - Rita Blanco, Joaquim de Almeida, Maria Vieira são provavelmente os nomes mais conhecidos, mas há espaço para todos brilharem. 
Entre a nostalgia, a emoção e a gargalhada sincera, saí do cinema com um sorriso e uma leveza de espírito. E agora até decidimos que se vai falar francês no Principado da Sé! 

Je suis enchanté!