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segunda-feira, novembro 03, 2014

Dia 6 - O Adeus a Agra, Sikandra e Mathura

Hoje o dia começou bem cedo. O despertar foi às 5h já que às 5h45 tínhamos um condutor de táxi à nossa espera  para nos levar até ao tão aguardado Taj Mahal. Chegámos à entrada do Taj Mahal e já havia uma fila enorme na bilheteira, felizmente tínhamos comprado o bilhete ontem no Agra Forte e tivemos apenas de nos posicionar na fila. Fomos logo dos primeiros, e uns 3, 4 minutos depois a fila já tinha um tamanho infindável. Existem 4 filas, duas para homens, 2 para mulheres, 2 para turistas, 2 para indianos. Em todo o lado se sente a diferença das castas, é um pouco agoniante sentir que nós somos considerados imediatamente um povo superior ao deles, mas o facto é que isso parece não os afectar, já que nos respeitam imenso e não demonstram revolta com isso. Mas é tão desconfortável sentir isso. A entrada no Taj Mahal requer o cumprimento de uma série de regras, e para meu infortúnio, e do Rúben que teve de esperar por mim, eu não cumpri uma delas, já que levava o braço extensível da GoPro que pelos vistos é proibido. Mandaram-me sair para ir a um sítio com cacifos onde podia deixá-lo. Estava uma fila gigantesca, portanto meti-me por um jardim dentro e apesar de haver indianos em toda a parte a toda a hora, tentei esconder o braço da máquina no meio do jardim e voltei a correr para o Taj. Eu e a minha mochila tivemos de voltar a passar no raio-X e à minha frente estava um rapaz que teve o mesmo problema que eu com o mesmo acessório. Provavelmente acharam que podíamos começar à paulada com ele, sei lá. Lá entrei e comecei a visita. Foi com um friozinho na barriga que atravessei a porta de acesso aos jardins que antecedem o Taj Mahal. Depois de pormos os olhos nele é difícil conseguir desviar o olhar para qualquer outro lugar. É uma sensação quase familiar, aquela de entrar num sítio que estamos habituados a ver na televisão e nos livros desde miúdos, apesar de estar num contexto tão distante do nosso contexto ocidental. O nascer do sol no meio da neblina tão característica torna o momento ainda mais inesquecível, a geometria, o detalhe, a perfeição, tudo parece estar certo naquele lugar. Toda a gente fica doida a tirar fotografias, eu próprio, queria ter a certeza que teria uma boa fotografia naquele sítio maravilhoso e quase andava à pancada com o Rúben, e ele comigo, para tirarmos boas fotografias um ao outro. Acho que temos algumas jeitosas.
Curiosamente, e depois de já ter visto tanta coisa na Índia, não achei o interior tão espectacular como noutros monumentos funerários, mas o biombo com jalis de mármore bate qualquer outro. O que é mesmo avassalador é o monumento em si. É incrível.
Ao andar nos espaços circundantes uma rapariga ao ver-nos a tirar selfies perguntou se queríamos que nos tirasse uma fotografia em português. Soube tão bem ouvir a nossa língua, até agora só tinha acontecido no Forte Amber em Jaipur, mas não contava já que eles eram claramente indianos que vivem em Portugal, não tem a mesma piada. A rapariga estava com um rapaz, o namorado, julgo eu, que era o rapaz que estava na fila à minha frente com todos os acessórios da GoPro. Mundo pequenino este. Trocámos dois dedos de conversa e eles deram-nos o contacto do sítio onde vão ficar em Goa, em cima da praia, se correr tudo bem, seremos vizinhos de cabana lá e festejaremos o aniversário da Maria com sotaque português.

















Depois tive de voltar ao jardim, esperando que nenhum indiano tivesse feito xixi no arbusto onde escondi o braço extensível, eles mijam em todo o lado, daí um dos cheiros característicos das ruas indianas ser o de urina. Felizmente estava sequinho, debaixo de umas folhas que eu rezei para que não tivessem cobras.  Depois de ter visto ao longe a cabeça de uma cobra capelo a sair de um cesto ao som de uma flauta em Delhi, ontem dois putos andavam com cobras dentro de um cesto a mendigar e eu devo ter dado a entender que não estava a gostar da brincadeira, já que ele enfiou-me o cesto com a cobra pelo tuk-tuk adentro, mas eu não cedi e ainda assim poupei-lhe os dentinhos todos. No entanto não houve um poro da minha pele que não se tivesse arrepiado. Depois lembrei-me do Tiago e pensei que a esta hora o miúdo estaria a ser lançado ao rio Ganges caso lhe tivesse feito o mesmo que fez a mim.
Enfim, depois voltámos ao hostel, tomámos o pequeno-almoço e o taxista pegou em nós e iniciou a jornada que teria de terminar no aeroporto de Delhi. Primeira paragem, Sikandra.
Sikandra é uma pequena vila nos arredores de Agra e é onde o imperador mongol Akbar está sepultado. Akbar era filho de Humayun, cujo túmulo já havíamos visitado em Delhi e que achei deslumbrante. Pois o do filho não fica nada atrás. O túmulo fica no centro e está rodeado de jardins murados, divididos em quatro através de sistemas de passagens elevadas, bosques desnivelados e canais. Nesses bosques vimos imensos antílopes negros que vivem nesses bosques circundantes e um ou outro macaco, mas esses é normal andarem em todo o lado. Fiquei apaixonadíssimo com os mosaicos das fachadas, com cores e padrões que eu achei maravilhosos.













Mais à frente o nosso taxista/guia parou em Mathura, um sítio que tínhamos ponderado passar mas que tínhamos desistido da ideia entretanto. É uma cidade conhecida por ser o berço do Deus Krishna e o taxista disse-nos que para entrar no templo hindu tínhamos de deixar as câmaras no carro senão não entrávamos. Eu, desconfiadinho como sou, fiquei  mortinho para que a visita acabasse porque só pensava que tinha dado o iphone a um homem que não conhecia de lado nenhum e ele se quisesse ia-se embora com ele e com as malas. Mas mais uma vez, pelo  6º dia consecutivo (todos, portanto) o universo provou-me que devo confiar mais nas pessoas, todos os dias a minha confiança nas pessoas indianas foi posta à prova das mais variadas formas e todos eles mostraram merecer a minha confiança. Penso que esta ansiedade é normal para nós ocidentais, que estamos cheios de vícios e preconceitos, já que os nossos novos amigos portugueses do Taj Mahal e um casal francês no hostel referiram sentir o mesmo. A Índia a ensinar coisas ao Pedrinho. O Rúben bem me perguntava porque é que eu parecia não estar a gostar do templo, não lhe quis dizer que estava apreensivo por termos confiado tudo o que tínhamos à excepção do passaporte e dos cartões que trazemos sempre connosco a um homem completamente desconhecido e eu disse-lhe que me sentia cansado, mas ele vai acabar por ler isto e perceber que não era esse o motivo. De qualquer modo, e correndo o risco de irritar os Deuses hindus, não achei piada ao templo. De espaço de meditação não tinha nada, toda a gente falava alto, havia música indiana aos berros, enfim, é a religião mais divertida que conheci até hoje, porque em vez de missas, silêncios e sofrimentos, eles parecem estar sempre em modos de arraial. Eu já ia arder no inferno  cristão, agora vou arder no hindu também.









Ainda antes de Delhi parámos junto à estrada para almoçar no sítio com menos condições que comemos até agora, mas a fome era tanta que quase lambi os dedos no final. Até agora está tudo bem, comidas picantes, algum mal estar quando é exagerado, mas nada de problemas alimentares.

Agora estou a empanturrar-me de chocolates no aeroporto de Delhi, preparando-me para uma bela noite nas cadeiras do aeroporto, já que ficaremos aqui das 18h (hora a que chegámos aqui depois de uma viagem de táxi que quase nos tirou a vida em 294 momentos diferentes) até às 10h55, hora do próximo vôo. Vamos embora da Índia. Por agora.

quarta-feira, outubro 29, 2014

Segundo dia em Delhi e Partida Para Jaipur

Acordei no segundo dia de Deli com a sensação de ter vomitado, coisa que não aconteceu de certeza após atenta inspecção à almofada. Começo a sentir instintos hipocondríacos, para qualquer mínima alteração tento perceber se comi alguma coisa errada, se bebi água que não devia, se será dos medicamentos da malária ou do picante que insistem em pôr em tudo o que é comestível. Portanto, estou apenas a ser parvo.
Após o choque de ontem, hoje Deli era já uma cidade familiar pela manhã. Com os trajectos todos planeados, conseguimos percorrer os sítios desejados sem grandes percalços. O tuk-tuk é o melhor meio de transporte e damos por nós tão embrenhados na vida indiana que regateamos os valores pedidos que na verdade são diferenças de 30 ou 40 cêntimos, que quando são pedidos a mais, achamos uma roubalheira. 
Após um pequeno almoço no MacDonalds, o sítio onde me sinto mais ocidental, fomos directos para o Forte Vermelho, cor atribuída por ter muralhas feitas de arenito  vermelho. Foi provavelmente o primeiro momento em que realmente senti que estava na Índia que imaginamos através dos filmes. Fiquei para morrer, não literalmente desta vez, quando percebi que a gopro não tinha carregado durante a noite e que teria de visitar todos os monumentos sem o registo em vídeo. Recomposto, tirei 1001 fotografias com a máquina do Ruben, já que a minha memória fotográfica não é suficiente para, daqui a um mês, me lembrar do que vi e fiz. Coisas da idade. 












Próxima paragem, apesar de não estar planeada, foi o hospital dos pássaros mesmo em frente, visita que nos obrigou a descalçar pela primeira vez no dia de hoje. Durou uns 3 minutos mas ainda assim consegui pisar coco de pombo. 

A caminho da Mesquita muçulmana Jami Masjid parámos para eu comprar uma mochila que me custou 3 euros, preço que não fui capaz de regatear mais, e o Rúben uns chinelos da marca "Poma", normalmente conhecidos por "Puma". Vou correr toda a gente a chinelos Poma para o Natal. A Mesquita era muito majestosa e tinha vários muçulmanos a rezar virados para Meca. Tivemos de nos descalçar mais uma vez e eu, por estar de calções, tive de usar uma espécie de saia para me tapar as pernas. Foi o mais próximo que estive do travestismo desde os Carnavais na Madeira em que me disfarcei de cheerleader e Miss Piggy. 










Apanhado novo tuk-tuk que nos levou a atravessar a cidade, chegámos ao Baha'i House of Worship, um templo em mármore com a forma de uma flor de lótus. Um edifício imponente e moderno a contrastar com os antiquíssimos monumentos que vimos anteriormente. Pertence à seita Baha'i com origem na Pérsia e que vê a humanidade como uma raça única. E não é assim que devia ser?






Última paragem do dia, túmulo de Humayun, o segundo imperador mongol, infra-estrutura que viria a inspirar monumentos como o Taj Mahal. Foi provavelmente a minha visita preferida. Os edifícios são maravilhosos e estão rodeados de jardins que nos fazem ter vontade de ficar lá um dia inteiro. Todos esses monumentos tinham "jalis", portas gradeadas de pedra que tornam o espaço ainda mais mágico. Apanhamos excursões de escolas com crianças com cerca de 6 ou 7 anos que estavam radiantes a cumprimentar-nos, como se fossemos alguém famoso. Ser ocidental aqui na Índia gera muita curiosidade e muitos cumprimentam-nos ou pedem para tirar fotografias connosco, desde as crianças aos condutores de tuk-tuk que adoram tirar fotografias para se poderem ver nas câmaras depois. Tenho já uma coleção de fotografias e vídeos com indianos curiosos a fazer photo-bombing.












Hoje a experiência foi bem mais positiva, já que começamos a perceber como agir neste mundo caótico. E se Deli era provavelmente a cidade menos apelativa da viagem, estou ansioso para ver as restantes. 

Escrevo isto no comboio para Jaipur, são quase 5h de viagem e felizmente tenho um interruptor que me permite estar a escrever isto no telemóvel. Quando publicar já estarei em Jaipur acomodado e a preparar o roteiro para amanhã de manhã.

Vês mãe, ainda estou vivo. Avisa o pai e manda beijos aos Avós. É melhor por aqui do que por postal, ainda não vi nada que se parecesse com uma estação de correios.