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quinta-feira, novembro 06, 2014

Dia 10 - "Apocalíptica e Surrealista Varanasi"

Após uma viagem com alguns sobressaltos em que eu e a minha mala fomos revistados em 5 momentos diferentes, chegámos a Varanasi! De volta à Índia para continuar a aventura por terras asiáticas, esta era a cidade que à partida criava mais apreensão. Rapidamente percebemos que já não estávamos no Nepal, voltámos às regras de trânsito “cada-um-por-si”, mas nós já estávamos vacinados das cidades indianas anteriores. Chegámos ao final da tarde e já não havia muito para fazer, pensámos nós… mas vai que afinal hoje é uma noite bastante especial. É a noite em que se celebra o “Dev Deepavali”, também conhecido como o “Festival das Luzes”. É uma celebração hinduísta que tem lugar todos os anos na lua cheia do mês hindu de Kartika e que acontece 15 dias depois do “Diwali”, festa que quase fez com que não conseguisse o visto na embaixada em Lisboa. Acredita-se que os deuses hindus descem à terra para se banhar nas águas do rio Ganges nesta noite e por essa razão as pessoas procedem a vários rituais, nomeadamente tomar banho no rio e lançar velas acesas ao rio, o que torna o cenário mágico. E quando dizem que este é o festival das luzes eles falam mesmo a sério. Os prédios estão todos decorados com luzinhas, as escadarias das ghats (escadas junto ao rio onde se fazem os rituais) estão iluminadas com milhares e milhares de vasinhos de barro com óleo e um pavio que abrilhantam a festa, o fogo de artifício não para de ser lançado (o cuidado a ligar com pirotecnia é parecido ao cuidado no trânsito, é tudo ao desbarato mas ninguém se magoa), as velas são lançadas ao Ganges por onde passam centenas de barcos, muitos deles também iluminados com luzes, cheios de pessoas de um lado para o outro. 
A sensação de fazer parte desta festa imensa é indescritível, há sempre alguma coisa a acontecer à nossa volta, não sabemos para onde olhar, para onde ir, o que fazer. Apetece furar as multidões, interagir com as pessoas, partilhar a sua alegria, fazer parte de todo aquele caos maravilhoso. Como nos disse ontem a senhora israelita no Jardim dos Sonhos em Kathmandu, Varanasi é uma cidade completamente surrealista e apocalíptica e esses adjectivos, que me pareciam exacerbados, correspondem completamente à realidade.
É uma celebração tão, tão, tão bonita e tivemos o privilégio de fazer parte dela sem sequer imaginar que teríamos isto tudo à nossa espera.

Hoje durmo de coração cheio.





























Dia 9 - Bhaktapur e Jardim dos Sonhos, ainda Nepal

Segundo dia completo em Khatmandu! Continuo a adorar a cidade e a chorar pelos cantos por não fazer trekking nestes dias. Hoje o rapaz que nos conduziu pela cidade voltou para nos levar a Bhaktapur, uma cidade localizada no vale de Kathmandu a 1400m de altitude, também conhecida como "A Cidade da Cultura". Já foi a capital do Nepal até ao século XV e hoje ainda é umas das principais cidades do vale e do país pela riqueza cultural que possui. Está cheia de templos de terracota com colunas de madeira trabalhada com a perfeição que já tínhamos visto ontem noutros templos. Apesar das religiões no país viverem numa harmoniosa simbiose, em Bhaktapur 92% da população é hindu e 8% budista. Ainda pertence ao vale de Kathmandu, mas esta cidade já fica um pouco mais próxima das montanhas dos Himalaias que as rodeiam, e na verdade as montanhas verdejantes fazem-me lembrar um pouco a Madeira, se calhar com um pouquinho mais de altitude. Coisa pouca. Esta cidade vive essencialmente do turismo (60%), há imensos autocarros turísticos à entrada da cidade, mas esta cidade também produz, nomeadamente cerâmica e cereais. Encontrámos por diversas vezes senhoras a tratar do trigo, a fazer montinhos com umas partes, a espalhar para secar outras. Foi uma manhã muito bem passada, há uma energia óptima não só em Bhaktapur mas em todos os sítios por onde andámos até agora, que só ia sendo quebrada quando, ao chegar ao local onde estaria o nosso condutor, não estava ninguém. Andámos às voltas e voltas e começámos a perguntar preços de táxi para voltar, que aquilo ainda é longe. Após 45 minutos ele aparece. E ainda bem, porque eu não queria ter nenhum ponto negativo a apontar nesta cidade que nos recebe tão bem. E ainda por cima tinha tido conversas tão edificantes com ele sobre futebol... conhece o Cristiano Ronaldo, como quase todas as pessoas, que quase de imediato dizem o nome dele quando mencionamos ser portugueses, é adepto do Chelsea, conhece o José Mourinho e gosta bastante do Di Maria e do Falcão. Não conhece nenhuma equipa portuguesa, mas fiz questão de lhe explicar que a melhor equipa é o Porto, por onde o José Mourinho e o Falcão passaram, ou seja, andei em processo de evangelização portista.


















Ao final da tarde resolvemos ir ao Jardim dos Sonhos, não sabíamos bem o que havia lá mas como era perto do hotel e já tínhamos passado por lá mais do que uma vez, estavámos curiosos e para além disso, já pouco sobrava para visitar aqui na cidade. Então, sem grandes expectativas lá fomos e ao entrar fiquei  completamente rendido. Trata-se de um jardim mandado construir em 1920 pelo Kaiser Sumsher, utilizando decorações tipicamente europeias que se percebe perfeitamente pelas estátuas e pelos seis pavilhões que rodeiam o jardim, cada um dedicado a uma estação do Nepal, aparentemente, consideram a existência de 6 estações ao longo do ano. O jardim foi deixado ao abandono durante muitos anos mas entre 2000 e 2007 e com a ajuda da Áustria (o que faz todo o sentido), voltaram a devolver ao jardim a beleza formidável que ele possui, mas apenas metade do jardim apresenta atualmente as características originais. A geometria entre os pavilhões e os jardins é perfeita. Num dos pavilhões existe uma pequena exposição com as fotografias de quando o jardim estava degradado e como está hoje em dia. Noutro há um restaurante que fiquei tentadíssimo a voltar para jantar, mas os preços eram parecidíssimos aos de Viena, ou seja, um pouco fora do orçamento desta viagem. Com fontes, relvados, plantas de todo o mundo, um baloiço em bambu, recantos com banquinhos e outros detalhes maravilhosos (fez-me lembrar jardins que visitei em Viena e Potsdam), este é um pequeno tesouro no centro da cidade de Kathmandu, onde a paz impera, ao som de inúmeros pássaros que voam de uma árvore para outra. Ficámos até ao anoitecer em conversa com um casal, ele austríaco, ela israelita, já muito conhecedores e completamente apaixonados pelo Nepal e pela Índia, o que foi óptimo para motivar os próximos dias que se avizinham. A senhora falou de Varanasi com tanta emoção que me vendeu a ideia de que essa será uma cidade fenomenal e eu vou acreditar que sim, porque é uma cidade que me está a gerar alguma apreensão. Amanhã confirmarei.
Para terminar em beleza a visita ao Jardim dos Sonhos, uma lua quase cheia subiu o céu por trás de um dos pavilhões e neste ambiente mágico nos despedimos do jardim.
Depois, tempo para uma última voltinha pelas ruas movimentadas de Thamel onde apetece comprar TUDO o que eles têm nas lojas e nas ruas.

















Recados para casa:

  • Beijos para a Julianinha, para o Norberto e demais família.
  • Daniela, Duarte e Tofi,  hão-de ter o vossa homenagem.
  • Carolina, rega as minhas plantas, não comas o meu pão-por-Deus e lava roupa só depois das 22h, que temos a tarifa bi-horária.
  • Liliana, trata bem dos meus alunos, é bom que não os estejas a incentivar a comer BOLOS.