Mostrar mensagens com a etiqueta pôr-do-dol. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pôr-do-dol. Mostrar todas as mensagens

sábado, novembro 22, 2014

Dia 14 - Goa, Palolem Beach

A viagem à Índia já terminou há exactamente uma semana mas ficou tanto por contar. Os 4 dias em Goa e o último dia em Mumbai ficaram pelo caminho, muito por causa da inacessibilidade à internet, ela existia mas era paga e tinha horários de utilização, e ao contrário das outras cidades em que íamos para o "hotel" quando o sol desaparecia e sobrava imenso tempo para descrever a viagem no blogue, em Goa havia sempre alguma coisa para fazer depois do pôr-do-sol, normalmente longas conversas à volta de uma mesa na praia. 

O primeiro dia nesta praia, Palolem, foi o momento em que respirámos de alívio e lavámos o corpo e o espírito em água salgada que tanto nos diz a nós, portugueses. Os indianos ambicionam um dia banhar-se no Ganges, eu ambiciono tomar banhos de mar todos os dias. Depois de muitos dias a tomar banhos com águas duvidosas, por vezes recorrendo a baldes e baldinhos, o primeiro mergulho nas águas (muito) quentes de Goa soube melhor que um boião de Nutella numa noite de inverno à lareira. 
Ficámos no "The Nest", recomendado pelo Luís e pela Maria que conhecemos no Taj Mahal e com quem partilhámos três magníficos dias nesta praia. Não neste dia, neste tive de aturar o Rúben sozinho. 
A cabana em que ficámos era a coisa mais amorosa do mundo, feita em madeira e palha e com muitas aberturas para o exterior o que me levou a inspeccionar muito bem por baixo da cama todos os dias antes de ir dormir não fosse ter entrado uma amiga cobrinha. Não me estou a queixar da precariedade do estaminé, pelo contrário, achei mesmo delicioso! As cabanas ao longo da praia só podem  estar montadas 6 meses por ano, por lei só podem explorar a praia nesses meses, depois têm de deitar tudo abaixo e voltar a montar tudo no ano seguinte. Calculo que seja proibido mandar as palmeiras abaixo, já que as cabanas são construídas à sua volta. As palmeiras tornam o cenário idílico, estava maravilhado com esta praia. Os restaurantes estão todos sobre a praia e à noite podemos até jantar ao pôr-do-sol em mesas que põem na areia. A comida é deliciosa, já se pode comer carne vermelha, apesar de eu não o ter feito, e o álcool já existe em todo o lado e a preços nada proibitivos como noutros sítios da Índia. Na verdade nem parece que estamos mais na Índia que conhecemos nos dias anteriores. Se eu fosse indiano, cão ou vaca na Índia era aqui que eu vinha viver. Perto do mar. O mar, sempre o mar!












segunda-feira, novembro 03, 2014

Dia 6 - O Adeus a Agra, Sikandra e Mathura

Hoje o dia começou bem cedo. O despertar foi às 5h já que às 5h45 tínhamos um condutor de táxi à nossa espera  para nos levar até ao tão aguardado Taj Mahal. Chegámos à entrada do Taj Mahal e já havia uma fila enorme na bilheteira, felizmente tínhamos comprado o bilhete ontem no Agra Forte e tivemos apenas de nos posicionar na fila. Fomos logo dos primeiros, e uns 3, 4 minutos depois a fila já tinha um tamanho infindável. Existem 4 filas, duas para homens, 2 para mulheres, 2 para turistas, 2 para indianos. Em todo o lado se sente a diferença das castas, é um pouco agoniante sentir que nós somos considerados imediatamente um povo superior ao deles, mas o facto é que isso parece não os afectar, já que nos respeitam imenso e não demonstram revolta com isso. Mas é tão desconfortável sentir isso. A entrada no Taj Mahal requer o cumprimento de uma série de regras, e para meu infortúnio, e do Rúben que teve de esperar por mim, eu não cumpri uma delas, já que levava o braço extensível da GoPro que pelos vistos é proibido. Mandaram-me sair para ir a um sítio com cacifos onde podia deixá-lo. Estava uma fila gigantesca, portanto meti-me por um jardim dentro e apesar de haver indianos em toda a parte a toda a hora, tentei esconder o braço da máquina no meio do jardim e voltei a correr para o Taj. Eu e a minha mochila tivemos de voltar a passar no raio-X e à minha frente estava um rapaz que teve o mesmo problema que eu com o mesmo acessório. Provavelmente acharam que podíamos começar à paulada com ele, sei lá. Lá entrei e comecei a visita. Foi com um friozinho na barriga que atravessei a porta de acesso aos jardins que antecedem o Taj Mahal. Depois de pormos os olhos nele é difícil conseguir desviar o olhar para qualquer outro lugar. É uma sensação quase familiar, aquela de entrar num sítio que estamos habituados a ver na televisão e nos livros desde miúdos, apesar de estar num contexto tão distante do nosso contexto ocidental. O nascer do sol no meio da neblina tão característica torna o momento ainda mais inesquecível, a geometria, o detalhe, a perfeição, tudo parece estar certo naquele lugar. Toda a gente fica doida a tirar fotografias, eu próprio, queria ter a certeza que teria uma boa fotografia naquele sítio maravilhoso e quase andava à pancada com o Rúben, e ele comigo, para tirarmos boas fotografias um ao outro. Acho que temos algumas jeitosas.
Curiosamente, e depois de já ter visto tanta coisa na Índia, não achei o interior tão espectacular como noutros monumentos funerários, mas o biombo com jalis de mármore bate qualquer outro. O que é mesmo avassalador é o monumento em si. É incrível.
Ao andar nos espaços circundantes uma rapariga ao ver-nos a tirar selfies perguntou se queríamos que nos tirasse uma fotografia em português. Soube tão bem ouvir a nossa língua, até agora só tinha acontecido no Forte Amber em Jaipur, mas não contava já que eles eram claramente indianos que vivem em Portugal, não tem a mesma piada. A rapariga estava com um rapaz, o namorado, julgo eu, que era o rapaz que estava na fila à minha frente com todos os acessórios da GoPro. Mundo pequenino este. Trocámos dois dedos de conversa e eles deram-nos o contacto do sítio onde vão ficar em Goa, em cima da praia, se correr tudo bem, seremos vizinhos de cabana lá e festejaremos o aniversário da Maria com sotaque português.

















Depois tive de voltar ao jardim, esperando que nenhum indiano tivesse feito xixi no arbusto onde escondi o braço extensível, eles mijam em todo o lado, daí um dos cheiros característicos das ruas indianas ser o de urina. Felizmente estava sequinho, debaixo de umas folhas que eu rezei para que não tivessem cobras.  Depois de ter visto ao longe a cabeça de uma cobra capelo a sair de um cesto ao som de uma flauta em Delhi, ontem dois putos andavam com cobras dentro de um cesto a mendigar e eu devo ter dado a entender que não estava a gostar da brincadeira, já que ele enfiou-me o cesto com a cobra pelo tuk-tuk adentro, mas eu não cedi e ainda assim poupei-lhe os dentinhos todos. No entanto não houve um poro da minha pele que não se tivesse arrepiado. Depois lembrei-me do Tiago e pensei que a esta hora o miúdo estaria a ser lançado ao rio Ganges caso lhe tivesse feito o mesmo que fez a mim.
Enfim, depois voltámos ao hostel, tomámos o pequeno-almoço e o taxista pegou em nós e iniciou a jornada que teria de terminar no aeroporto de Delhi. Primeira paragem, Sikandra.
Sikandra é uma pequena vila nos arredores de Agra e é onde o imperador mongol Akbar está sepultado. Akbar era filho de Humayun, cujo túmulo já havíamos visitado em Delhi e que achei deslumbrante. Pois o do filho não fica nada atrás. O túmulo fica no centro e está rodeado de jardins murados, divididos em quatro através de sistemas de passagens elevadas, bosques desnivelados e canais. Nesses bosques vimos imensos antílopes negros que vivem nesses bosques circundantes e um ou outro macaco, mas esses é normal andarem em todo o lado. Fiquei apaixonadíssimo com os mosaicos das fachadas, com cores e padrões que eu achei maravilhosos.













Mais à frente o nosso taxista/guia parou em Mathura, um sítio que tínhamos ponderado passar mas que tínhamos desistido da ideia entretanto. É uma cidade conhecida por ser o berço do Deus Krishna e o taxista disse-nos que para entrar no templo hindu tínhamos de deixar as câmaras no carro senão não entrávamos. Eu, desconfiadinho como sou, fiquei  mortinho para que a visita acabasse porque só pensava que tinha dado o iphone a um homem que não conhecia de lado nenhum e ele se quisesse ia-se embora com ele e com as malas. Mas mais uma vez, pelo  6º dia consecutivo (todos, portanto) o universo provou-me que devo confiar mais nas pessoas, todos os dias a minha confiança nas pessoas indianas foi posta à prova das mais variadas formas e todos eles mostraram merecer a minha confiança. Penso que esta ansiedade é normal para nós ocidentais, que estamos cheios de vícios e preconceitos, já que os nossos novos amigos portugueses do Taj Mahal e um casal francês no hostel referiram sentir o mesmo. A Índia a ensinar coisas ao Pedrinho. O Rúben bem me perguntava porque é que eu parecia não estar a gostar do templo, não lhe quis dizer que estava apreensivo por termos confiado tudo o que tínhamos à excepção do passaporte e dos cartões que trazemos sempre connosco a um homem completamente desconhecido e eu disse-lhe que me sentia cansado, mas ele vai acabar por ler isto e perceber que não era esse o motivo. De qualquer modo, e correndo o risco de irritar os Deuses hindus, não achei piada ao templo. De espaço de meditação não tinha nada, toda a gente falava alto, havia música indiana aos berros, enfim, é a religião mais divertida que conheci até hoje, porque em vez de missas, silêncios e sofrimentos, eles parecem estar sempre em modos de arraial. Eu já ia arder no inferno  cristão, agora vou arder no hindu também.









Ainda antes de Delhi parámos junto à estrada para almoçar no sítio com menos condições que comemos até agora, mas a fome era tanta que quase lambi os dedos no final. Até agora está tudo bem, comidas picantes, algum mal estar quando é exagerado, mas nada de problemas alimentares.

Agora estou a empanturrar-me de chocolates no aeroporto de Delhi, preparando-me para uma bela noite nas cadeiras do aeroporto, já que ficaremos aqui das 18h (hora a que chegámos aqui depois de uma viagem de táxi que quase nos tirou a vida em 294 momentos diferentes) até às 10h55, hora do próximo vôo. Vamos embora da Índia. Por agora.

segunda-feira, junho 13, 2011

"I'll sit and wait here, and maybe you're near... and you won't take long"


"Eles não sabem aproveitar os finais de tarde como nós".

Acabam sempre por deixar escapar aquele momento, aquele instante irrepetível que escoa mais depressa do que a música que está a tocar. Só ficam até o sol deixar de queimar a pele, viram-lhe as costas e não se deixam ficar. Ele, que tão educadamente se despede para ir iluminar outras paragens, com uma promessa de breve regresso. Sim, porque ele sempre cumpre com o prometido com a precisão de um relógio suíço. Tiramos fotografias na esperança de imortalizar os raios de sol que se debruçam sobre a linha do horizonte e os prédios e árvores que a povoam, mas nunca conseguimos que a imagem captada faça jus ao momento que saboreamos.

Ficamos até a brisa fresca começar a deixar-nos a pele arrepiada, nem sempre provocada pelo brisa em si. A urgência de um casaco é trocada por um abraço, aquele que nos deixa inebriados. Com a tua cabeça encostada no meu ombro.


"Eles não sabem, deixa p'ra lá".




IMAGEM:
© Patrick Lane Photography/Corbis