sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Lúcia-Lima


Era um final de tarde quente, apesar de estar no pico do Inverno. Daquelas tardes em que é obrigatório por lei passear, absorver a cidade e acima de tudo desfrutar da companhia um do outro. Sem saberem bem para onde ir ou o que fazer, deambularam pela cidade aperaltados e com o cabelo devidamente penteado. Podiam ter ido passear a sua beleza inegável e chamar a atenção de quem nessa tarde também resolveu percorrer a baixa da cidade a pé, mas eles fizeram bem mais do que isso. Quando por fim perceberam o que precisavam, sentaram-se a aproveitar os últimos raios de sol e sem preconceitos, máscaras ou filtros partilharam em silêncio aquele momento que ambos precisavam, preenchidos com a presença um do outro. Um agarrou nas suas palavras e organizou-as em frases que resumiam toda a existência do outro nesta cidade, que o ouviu com uma avidez controlada enquanto aquecia as mãos numa chávena de chá de lúcia-lima. Estiveram ali um hora a se ouvirem entre pausas e silêncios oportunos. Reencontraram aquele brilho que ia muito para além do requinte que os rodeava e realizaram que apesar das suas diferenças aparentes, estão mais próximos do que as pessoas da mesa ao lado pudessem crer. Não precisaram de mais ninguém naquela tarde além deles próprios.


E sim, eles estavam fabulosos.


Young Man Drinking from Mug
IMAGEM:
© Pete Leonard/Corbis


1 comentário:

Anónimo disse...

:) temos que repetir... aos poucos, eu volto. =) T