Era mais um Verão que terminava apesar de saber que se prolongava além das fronteiras dos calendários. Determinara que assim seria e que os bronzeados e os caracóis manter-se-iam até quando eu quisesse. Sentia ainda as ondas que foram furadas ao passar do navio, as correrias e o rebuliço no areal com a intensidade de uma criança de 7 anos eufórica na hora do recreio. Pintaram-se bocas de rosa e verde com gelados que se sorviam calmamente para que durassem mais uns momentos. E compravam-se outros porque um sabia sempre a pouco. Intrépidos e audaciosos, saltávamos sem medo disparando a frequência cardíaca para níveis que se queriam nos píncaros. Vibrámos como quem sabe viver a vida e saboreámos cada bocadinho. Olhámos estrelas e dormimos ao luar no aconchego de amizades consolidadas que remexiam com prazer nos cabelos excepcionalmente contorcidos. Muito se pedalou sem destino só pelo simples prazer de uma liberdade agarrada convictamente com ambas as mãos para que nada escapasse. Até lemos avidamente descobrindo novas luzes além do lusco-fusco das estradas à noite. Fizeram-se amizades, viveram-se momentos únicos, demos gargalhadas até ao amanhecer enquanto jogávamos às cartas, conversávamos ou simplesmente olhávamos para o horizonte. Crescemos até o tamanho de gigantes com asas e voámos sem medo das alturas.
"Send me letters from above
Send me strength, send me love
Such sweet love"
Mas mesmo vivendo um verão de 12 meses, o Outono chegava fisicamente, e os caracóis dourados pelo sol precisavam ser cortados.
Terminava um Verão inebriante para começar um Outono não menos radioso.
5 comentários:
... depois disto é impossível não estar com saudades do verão ...
O Verão já lá foi e agora temos à porta a chuva, o vento e os relâmpagos, mas também têm o seu lugar.
... e o frio!
Em tempos escrevi: "Oiço: "Joe le taxiiii..." e só me lembro do passado! Do past! Passé! Composé ou não... Mas era bem composé o meu passé. Sem dúvida! A casa da prima no Porto Santo, os tios, os primos, os filhos dos primos, as insónias, o krapot, as paciências, os beijinhos, os pais na Madeira, o avô doente, o salame de chocolate com ketchup que os primos mais velhos impijiam aos mais novos (digamos que eu era considerada prima do meio, nem mais velha nem mais nova... deduzam!), os strips dos cachopos e as gargalhadas consequentes, a reunião de quarto ás tantas da manhã... O que uma música nos faz lembrar... Um Setembro de Porto Santo na casa da prima!"
(em http://so-queria-um-esbocinho.blogspot.com/2006/07/ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai-ai.html)
Caro amigo, queria dizer-lhe que, caso não tenhas reparado, o seu doce de época está fora de prazo!
Viver o Porto Santo não é para todos, né Sofia Isabel?
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