terça-feira, dezembro 23, 2008

I won't be home for Christmas

Este ano será diferente Neste dia estaria a passear pelas ruas de um Funchal fervilhante de luzes e magia, em jantares em que todos chegavam atrasados e onde acabávamos invariavelmente por comer pizza nalgum restaurantezeco.

As pessoas parecem mais bonitas no Natal, já vos tinha dito isso?

A noite do mercado numa Fernão de Ornelas tão familiar, lugar para (re)encontrar todas as pessoas conhecidas e amigos que não vemos há longos meses, por vezes anos. Este ano não irei roubar tangerinas nem fotografar todas as pessoas com as quais me esbarro. Não vou poder amparar a Sofia caso comece a regurgitar o jantar num espectáculo de tragédia cómica, não irei cantar na lota sem que me mandem calar, nem poderei passar a noite a fugir. É que encontrarem-me acidentalmente é mais fácil do que tentarem estar comigo mais de 10 minutos. Sou livre nessa noite e corro todasas ruas e barracas. Oiço lamentos de amores imperfeitos, relatos de histórias "Ouvi dizer que...", histórias de gente toldada pelo álcool tomado em chávenas ganhas em trocas de prendas, oiço risos sinceros, porque se não forem, eu mudo de poiso. Esse espírito nómada, essa necessidade de estar com toda a gente, há muito que faz parte de mim. Os chapéus de Pai Natal e as hastes de rena polvilham a cidade, sem que alguém se importe de andar com um belo (mas divertido) par de cornos. Há ainda tempo para ouvir um ou outro comentário sobre as roupas ou as vidas de outras pessoas, mas um madeirense que se preze tem sempre algo a dizer dos outros. Este ano não tentei arranjar barraca, será a conseguiria este ano? O que é certo é que ninguém vive o Natal como nós, madeirenses. Começamos a festejá-lo muito antes do dia 25, com missas do Parto às quais nunca fui, mas que são cada vez mais procuradas pelos jovens, apesar destes nunca chegarem a entrar nas igrejas, preferindo os comes e bebes do exterior. Nada melhor que começar o dia (ou terminar a noite) com umas cervejas e umas sandes de carne de vinha d'alhos, dizem eles. Dizem também as pessoas sábias que só valorizamos as coisas quando não as temos e eu, como acérrimo seguidor da teoria do Carpe Diem e do hedonismo no dia-a-dia, tento antecipar aquilo que sei que vou sentir falta, mas neste aspecto penso ter-me esquecido que se calhar estes eventos ajudam a criar o espírito de Natal. Nunca fui a uma missa do Parto apesar de ter tido o prazer (?) de acordar uma destas manhãs com cânticos muito mal interpretados, diga-se em abono da verdade, nas quais as vozes maviosas (ou seriam mafiosas?) da Daniela e do meu querido irmão amanhavam o "Virgem do Parteee, ó Mariaaaa, Sinhora da Conceiçãaaao... Dai-nos as festas felizeeees, a paz e a salvaçãoooo!". Se estivesse na Madeira iria garantidamente a esses eventos tão tradicionais. Acredito que até iria à missa do Galo, da qual reclamo todos os anos por julgar que isto tudo do Natal não passa de uma patranha com o intuito de nos impingir mentiras inventadas por algum escritor prodigioso sob o efeito de estupefacientes (é desta que perdi o meu lugar no céu). Mas isto é a festa da família. E que falta ela me faz! E logo na missa do Galo onde a Julianinha nos brinda sempre com as suas hilariantes pancadas de sono, não é Nuno? E no ano passado até foi divertido assistir a uma missa onde o padre utilizou um powerpoint e onde cantámos (mesmo!) os "Parabéns a Você" ao menino Jesus pelas suas muitas e bonitas Primaveras. Com a desvantagem de não ter havido bolo. Mas a família. Isso é que é. E a paz que se instala na noite de 24, contrastando com a de 23. A calma da cidade, a partilha, o amor que é realmente exalado.
Dia 25, os sapatinhos na cozinha cheios de prendas. O pai de roupão com ar de quem foi obrigado a levantar-se contrariado e que ainda não está realmente acordado. A mãe, sempre o elemento com maior densidade de embrulhos derivado ao estatuto social que lhe permite ser presenteada por todo o mundo. Qual estatuto, ela é que os merece mesmo. Já o meu sapatinho há alguns anos que perdeu o encanto por acabar por receber praticamente apenas dinheiro, mas também, após perceberem que oferecer-me roupa é tarefa complicada, a solução é mesmo darem-me dinheiro e dizerem "Toma, vai tu comprá-las aos saldos!". O que é sensato. Mas a magia dos embrulhos sempre foi salvaguardada pela Tia Helena com os seus muitos presentinhos e postais adjacentes, e sim, ela atreve-se/arrisca-se a oferecer roupas que nunca poderemos trocar, pois fica caro deslocar-se aos armazéns do Harrods em Londres. Mas adoro, adoro! Porque dá-los com tanto carinho que é impossível não rirmos/sorrirmos e gostarmos deles, mesmo que os utilizemos apenas uma vez para ela ficar contente por nos ver com os presentes vestidos. Mas já agora, hoje estou a utilizar a camisola que me ofereceu no ano passado! E após os sacos de lixo cheios de papel, há a correria para não nos atrasarmos para o almoço de Natal. Lembro-me de o passarmos em casa da Avó Juliana, na casa da Tia Cecília e do Tio Zé, mas os melhores são sempre aqueles feitos na casa da Tia Matilde. É a casa em si, a decoração, as comidas tão bem preparadas, o carinho colocado nas preparações de tão especial dia... As melhores recordações, tenho-as na alcatifa da sala de jantar, nas escadas, no jardim da Rua da Rochinha.
Those days are over. Saudade, muita.
Os primos todos reunidos, haverá algo melhor? As palhaçadas do Tio Ricardo, o bobo da corte da família, as caras com sorrisos amarelos quando recebemos prendas que não gostámos, os risos loucos e os beijos de agradecimento, os papéis de oferta jogados pelo ar, os laços colados uns nos outros. A família reunida. Estarei a repetir-me? Amo-a de coração. O dia 26, porque na ilha há festa durante muitos dias seguidos, é dia da família Andrade! Em Santana, com a canja melhor de sempre, a da Avó Cristina! De comer e chorar por mais. Repito 3 ou 4 vezes, sem cerimónias. Com Ferreros Rocher nas mesas. Com a Tia Lídia que me inspira sempre. Com a Mariana e a Ana Rita a correrem pela casa e a crescer de ano para ano a uma velocidade vertiginosa. Um dia tão diferente e tão especial como o do dia anterior. Sei lá. É tão reconfortante reunir toda a gente.
Este ano não estarei em Santana, mas com o novo menino Jesus, a linda Matilde, também não farei muita falta. Mas eles irão fazer-me imensa. E tenho medo. O de não conseguir aceitar que nos próximos Natais possamos não ser tantos como nos anteriores. Não quero, mas penso muito (se calhar demasiado) nisso.

E peço desculpa se chorar um pouco por não estar com a minha família. É saudade. Muita.

Neste Natal terei uma família emprestada e iguarias diferentes. Serão a minha família e sei que me vão proporcionar um óptimo Natal. Tenho a certeza disso. Já gosto dela como se fosse minha.


E sem querer entrar em clichés, aproveito para desejar-vos, a quem quer que leia este post, um excelente Natal! (pronto, apareceu o cliché)

8 comentários:

Sérgio Leal disse...

Obrigado por te teres lembrado de mim :P ;) eu ao menos pensei em ti quando tava a descer a montanha a aprender a fazer snowboard ;)
beijos meus e da pati

Anónimo disse...

fica sabendo que nunca perderia tanto tempo a ler um post se não fosse teu.....mas valeu a pena!

um abraço pedro!

helen garden

Merchi disse...

... beautiful

Lidia Leal disse...

Meu querido sobrinho, como sabe bem recordar o que é bom!...
Este post faz chorar as pedras da calçada, eu tambem sou assim muito sentimentalista, dou muito valor às tradições, gosto de vivê-las intensamente e transmitir esses valores às gerações vindouras,mas é sempre positivo ter novas experiências. São sempre uma mais valia na nossa vida. E como o mundo não pára, no próximo ano veremos como será!... acredito mesmo faltando alguns seremos sempre mais. Neste ano,e do lado de Santana embora tenhamos mais 1 elemento novo na família que é a nossa Matilde e ao contrário dos 4 anos anteriores tivemos o nosso David, faltou imensa gente, além de ti, não vieram o Sérgio, a Pati, a Maria.
Vês só fazem falta os que não estão!... Mas foi um Natal lindo sim porque os que estão têm de festejar. O pequeno almoço foi na casa dos avós, o almoço ajantarado foi na casa da Inês. Com um requinte!... e ontem a espetada foi na Casa do Pico, e celebramos o 31º aniversário do meu casamento.
E hoje já é dia de trabalho!...
Muitos beijos e que o ano de 2009, te traga a solução para realizares todos os teus sonhos.

Anónimo disse...

Resumo do Natal: Quem é amigo,quem é?Kem t fez chegar cheiros do Natal em vários momentos? Virge do Parteee, óhhh Mariaaaa...lalalala!Este ano aderi à tradiçao e gostei!Pró ano lá estarei novamente!Este ano a missa do galo nao teve o mesmo brilho!Olha!A mae nao pos o reflexo miotático dela a funcionar, a missa foi excessivamente longa (auto d natal,romagens e sei lá mais o quê),enfim!Não houve parabens a você mas fo a 1a vez que estive numa missa com...KARAOKE!!! Tinha um datashow virado para os fieis e apareciam as letras das cançoes q iam sendo entoadas...LINDOOO!!!É a igreja a acmpanhar as novas tecnologias!!!A noite do mercado foi mt animada apesar da chuva intensa q arruinou a perspectiva d negócio das barraquinhas e negócios adjacentes!Este ano a consoada foi na minha casa e foi simpatica e especial!Tavamos nós, os avós,pais,tia teresa!Faltaste msm tu!Sapatinho posto na casa dos pais mas sem perspectivas de irmos lá na manhã seguinte (bluff)!O bloco A2 foi invadido na manha d natal por sacos e mais sacos,prendas e mais prendas e a cozinha desapareceu sob um mar d embrulhos coloridos e d tdas as formas e feitios!Momentos giros sim senhor! Natal no tio zé tb muito bom, como no ano passado e com tds presentes!Dia 26 em santana na casa da tia Inês, num festejo mt animado e com a Matilde a fazer as delicias d todos!O fim do ano está em preparação no D.João,sob o espectro ameaçador d um tempo miserável q anseia por estragar o nosso tao conceituado FOGO!E prontessss...é isto!

P.S. Tb tenho pensado bastante nessa coisa q tb t tem atormentado o espírito...e sinto o msm...

dnesa

Anónimo disse...

bom depois de tanto blá blá... o minímo era mesmo desejar um bom natal..... e já agora um feliz ano novo em terras continentais

Ana Pena disse...

Pedrinho...fogo deliciei-me e emocionei-me ao ler o teu post. Ainda não passei um Natal sem ser com a minha família e aprecio tanto esses momentos que tenho passado com ela, são inesquecíveis! Também tenho um tio que só faz palhaçadas mas chama-se Tio Gaspar e é único!
Fico feliz por apesar de estares longe da tua Madeira teres passado um bom Natal!
E que 2009 te traga muitos momentos felizes!
Beijinhos grandes*

Pedro Espírito Santo disse...

E eu adorei estes comentários todos!!!