Todas as vezes que tentara comunicar com as pessoas grandes o rapaz ficava sempre com a vaga ideia de que não o compreendiam. Uma vez ouvira na televisão que existiam diferentes línguas espalhadas pelo mundo, mas ele nunca havia saído da sua rua para poder contemplá-las e deliciar-se com elas. Muitas foram as vezes que julgou falar um desses idiomas exóticos, talvez isso justificasse a cara de indiferença e impavidez das pessoas grandes todas as vezes que tentou comunicar com elas. Sentindo-se um estrangeiro, um ser diferente dos outros, dedicou-se aos gestos, talvez apontando para as coisas ou arranjando sinaléticas próprias as pessoas lhe respondessem às perguntas, mais afirmativas que interrogativas, que escorriam pelos lábios e pelos olhos de menino vivaço. Mas nem por isso. Porém, quando brincava com os vizinhos da sua idade, parecia não ser tão importante que o compreendessem, na verdade achava que os seus amigos também não era ouvidos pelas pessoas grandes e não se sentia tão diferente. E com os meninos da sua idade ele não conseguia dizer o que queria por serem novos demais. Nunca arranjou algum amigo imaginário, mas refugiou-se no vento com quem sabia que podia confidenciar os seus segredos. Ele sim, ouvia-o, compreendia-o e levava consigo tudo o que o rapaz tinha para dizer. As suas palavras chegaram a outras terras, docemente transportadas pelas brisas e houve quem as ouvisse, mas eram raras as pessoas que as compreendiam. Estavam soltas e ninguém as conseguia colar.
E ele tinha sempre tanta coisa boa para dizer.
E ele tinha sempre tanta coisa boa para dizer.
© peace!/amanaimages/Corbis
2 comentários:
Eis que este espaço volta a ter batimento cardíaco novamente!!!
bravo!
dnesa
Gostei mt!
Especialmente a parte de o vento levar as palavras a outra terras...
Que historia tao gira e simples ao mm tempo.
Escreve mais!
Enviar um comentário