quinta-feira, abril 19, 2012

"First Days Of Spring"



"Era mais um daqueles dias em que o cansaço se apoderara do meu corpo e tudo o que ele pedia era um banho quente de imersão e um chá quente a acompanhar. Um chá que lembrasse o tempo frio do Inverno que terminara, cuja passagem havia sido incólume, imperceptível. Tomei esse chá de mel e limão como a minha derradeira hipótese de me despedir condignamente dos dias cinzentos, entrelaçando com força os dedos das mãos engelhadas à volta da chávena. Os meus joelhos começaram a enregelar por estarem acima do nível da água fumegante e precisei encostar a chávena para atenuar o frio do ar que percorria aquela divisão da casa. Não podia chamar a Regina ou a Luísa para ligar o aquecimento central porque tinham saído até ao mercado para comprar flores frescas para as jarras da sala, nem tão pouco o Óscar, tão embrenhado há semanas na organização da festa para celebrar a chegada das andorinhas. Subitamente, contrariando todas as expectativas para aquele pesado dia, por entre os gigantescos blocos de cimento escuro colados na atmosfera, escapou-se um tímido raio de sol, logo seguido de outro e mais outro, que sem pedir licença atravessaram a vidraça e se instalaram nos azulejos baços do século XVIII que rodeavam a banheira. Senti a presença do Noé, que chegou a casa com a ligeireza de sempre. Quando ele chegava era como se viesse acompanhado de uma orquestra que, delicadamente, enchia a casa com aquela sensação de leveza primaveril e que nos permitia ouvir o desabrochar das flores. E os meus joelhos aqueceram com os raios de sol que ao bater neles, os transformaram em arco-íris sobre a minha pele. Aproveitei a música que entrara com o Noé para terminar o banho que me acabara de revigorar para o resto do dia. Um dia que, a partir desse momento, entrava em contagem decrescente para a chegada da Primavera. O Óscar não ia querer que o Mr. D. chegasse ao seu banquete sem a sua andorinha e para isso era necessário escoar o peso de mais de quatro estações pelo ralo abaixo. Para todos os efeitos, a água já estava suja e fria. E era Primavera. E era impreterível que não houvesse uma nova Primavera sem andorinhas no beiral do seu Palácio"


For I'm still here hoping that one day you may come back



sábado, abril 14, 2012

Atenção, eu não quero casar com a Luísa Sobral, apenas gosto dela assim em mointo. E também gosto de títulos enormes para as minhas publicações.

Já me cansei de usar a frase cliché "As coisas têm a importância que lhes atribuímos" mas a verdade é que para mim a Luísa Sobral é a minha cantora preferida. Não é estrangeira, não tem uma voz de Whitney Houston, não dança como uma Beyoncé da vida nem tem o rabo de uma Jennifer Lopez e ainda assim é dela que eu gosto. É daquelas paixões com quem queremos partilhar a lambreta num dia de sol até à beira rio ou até uma praia deserta. Daquelas com quem queremos ir passear o cão e deixá-lo correr à vontade sem trela pelos jardins da cidade. Daquelas com quem queremos ir tomar um chá e comer uns cupcakes num café com vista para a cidade de Lisboa. Daquelas com quem queremos espreguiçar na cama numa manhã solarenga de Sábado e tomar um brunch com sumo de laranja e tostas de queijo. Daquelas com quem queremos dar as mãos e passear com os dedos entrelaçados. Daquelas com quem queremos parar para cheirar as rosas. Daquelas em que ela é a Shirley Manson e eu o Elijah Wood no vídeo daqui de baixo. Aliás, não percebo como esta música é da Zee Avi e não da Luísa Sobral. Porque bem que podia ser.


E logo à noite, depois da fila da frente no São Jorge, da fila da frente no Sudoeste, do Casino de Lisboa e de uma tentativa falhada de vê-la na FNAC da Cascais, onde cheguei na última música, chega a altura do CCB. Não tenho a primeira fila porque não consegui, senão era mesmo lá que eu estaria. Sou o stalker nº 1 da miúda e assumo.

E é esta a minha declaração de amor à Luísa. Ponto.


quarta-feira, abril 11, 2012

"Kiss With a Fist"


Hoje estou com a neura. Já estava ontem, mas estava excessivamente neurótico para escrever sobre isso. E não, não é nada em particular, mas sim TUDO no geral. É mais ou menos isto que a Sofia falou um dia. É um bicho qualquer que está aqui dentro a remoer e que não há maneira de o cuspir cá para fora.  É uma inquietação constante que me impede de conviver pacificamente com seres humanos que me queiram contrariar. Se fosse mulher, acredito que isto deva ser o mais próximo da famosa TPM. Até agora tenho-me aguentado com um sorriso na cara, mas caso me encontrem na rua nas próximas horas ficarão já a saber que é melhor que não me aborreçam porque arriscam-se a levar um beijo com o punho. Estão no entanto à vontade para me elogiar e oferecer coisas. Não chocolates, por favor, estou em fase de comer tudo à dentada e ando a esforçar-me para não abrir as caixas de frutos do mar que tenho no armário da sala. Tenho uma barriga para mostrar no Verão, se faz favor. Ela e eu agradecemos. E provavelmente os banhistas também.
Preciso de sete dias longe do mundo, perto de ti, peço conforto de quem eu fugiiiiiiiii. Viram, até já canto isto da Sara Tavares. E se me atazanarem o juízo juro que ainda me inscrevo nos Ídolos e canto essa música ou uma do Rui Veloso ou da Adele. E vocês não vão querer isso. Não vão mesmo.

segunda-feira, abril 09, 2012

A Minha Lambreta É Pelo Mal

Anda uma pessoa a fazer declarações de amor à sua lambreta na praça pública, em paz com todas as preocupações que deu até o momento, celebrando as boas memórias e augurando muitas outras que estão para vir, para depois ela se espalhar ao comprido na Sexta-Feira Santa logo pela manhã, quando o seu dono tinha vestido a roupa da missa para ir passear com os pais. Não foi bonito, nunca é. Lambreta para um lado, Pedro para outro, desta vez com mais consequências para a rebelde motinha que ficou sem retrovisor. Sem crise, nunca precisei do retrovisor, mesmo estando lá, acabo sempre olhando para trás com a cabeça antes de qualquer manobra. Mas equivoquei-me. Uma mota sem retrovisor é o mesmo que um sorriso sem um dente da frente. Conseguimos aprender a viver com isso, mas nunca mais conseguimos impor qualquer tipo de respeito. Aposto que foi para a noite na quinta-feira e enfrascou-se a misturar gasolinas de baixa qualidade. Mas como sempre, foi incapaz de me chegar a casa de depósito cheio. 

terça-feira, abril 03, 2012

A Minha Lambreta


Já passaram 6 meses de vida em comum com a minha lambreta. Temos sido muito felizes juntos. Tirando aquele primeiro momento em que quiseste mostrar quem mandava no pedaço e me atiraste para o asfalto para tatuar os meus joelhos. Mas rapidamente nos reconciliamos e todos os dias nos cumprimentamos com um beijinho e uma apitadela.  Já adoecemos juntos e já rimos de muitos condutores de Playstation ao passar por eles no meio do trânsito, eternamente engarrafados e com um humor nublado logo pela manhã. Já quase levámos com portas no nariz, quase atropelámos peões que julgam ser super heróis e atravessar onde e à velocidade que lhes apetece. Já fomos rebeldes e atravessámos sinais vermelhos e acelerámos pela faixa do BUS como se aquilo fosse tudo nosso, sempre à espreita de algum polícia que nos apite e nos chame a atenção como naquelas vezes que fomos apanhados a andar em cima do passeio. Confesso que às vezes me aborrece o teu problema com a bebida, começa a tornar-se um vício cada vez mais caro e temos tido algumas discussões a propósito do assunto. Ainda não te estreei com mais alguém em cima, mas peço desde já desculpa ter-te deixado nas mãos de um novato, mesmo que por menos de 2 minutos e na minha Travessa com final e sem trânsito. Eu senti o medo quando voltaste ao dono, mas prometo ter mais cuidado para a próxima e certificar-me que a próxima pessoa que te acelere te irá tratar com o máximo respeito. 

Somos um acidente prestes a acontecer, mas isso é um pormenor.

"Vem dar uma voltinha na minha lambreta
E deixa de pensar no tal Vilela
Que tem carro e barco à vela
O pai tem, a mãe também
Que é tão, tão sempre a preceito
Cá pra mim no meu conceito
Se é tão, tão e tem, tem, tem
Tem de ter algum defeito
Vem dar uma voltinha na minha lambreta
Vê só como é bonita, é vaidosa
a rodinha mais vistosa
deixa um rasto de cometa
É baixinha mas depois parece feita pra dois
Sem falar nos eteceteras
Que fazem de nós heróis
Eu sei que tem um estilo gingão
Volta e meia vai ao chão
Quando faz de cavalinho
Mas depois passa-lhe a dor
Endireita o guiador
E regressa de mansinho para pé do seu amor"
Vem dar uma voltinha
na minha lambreta
Eu juro que guio devagarinho
Tu só tens de estar juntinho
Por razões de segurança
E se a estrada nos levar, noite fora até o mar
Páro na beira da esperança 
Com a luzinha a alumiar"