segunda-feira, março 25, 2013

Os trevos de 4 folhas são um embuste, só para que se saiba


Na passada segunda-feira inundei-me de uma boa disposição, cheia de fogo de artifícios, confetis e serpentinas. Decidi que a semana ia ser fabulosa, até porque ia começar com o lançamento do álbum dos Deolinda e porque tinha encontrado estes sete trevos de 4 folhas. Não havia maneira de falhar, tinha um para cada dia da semana. Vamos lá a contas:

Tive com a minha velha amiga amigdalite e tive de me encher de medicação para não ficar como a do ano passado em que fiquei uma semana em casa a cuspir sangue e a comer canja porque era a única coisa que me passava pela garganta;

A minha mota deu o berro a meio do túnel do Campo Pequeno, o que me obrigou a andar com ela pela  mão nesse mesmo túnel correndo o risco de ser passado a ferro por um carro mais distraído. Ainda assim eu liguei para o reboque, aguentei a TPM da senhora do stand e fui a pé para casa a pé a pensar nas flores e nos passarinhos como se a Primavera tivesse um poder curativo qualquer. O arranjo, 260 euros. Que depois de discutido passou a 150 - adoro chico-espertices.

Fiquei sem transporte durante uns dias e decidi ficar em casa quietinho a ver se a amigdalite não piorava o que parecia lindamente, umas folgas "forçadas". Mas depois acontece o triste fado do trabalhar independente - não trabalha, não ganha. 

Na sexta-feira ainda tive de viver o drama do desaparecimento do Alfred que resolveu conhecer o fabuloso mundo dos telhados da Rua do Carrião pela primeira (e aposto, última) vez. Claro que o bicho voltou, foi apenas um devaneio por ter jantado camarões e amêijoas. Não se pode mimar estes gatos de hoje.

O Euromilhões, não o vi. Nem uma migalha para os pombos.

Portanto, vou pegar fogo aos trevos e voltar ao trabalho.
Mas vá, a semana foi até muito bem disposta e não vou tenho grandes razões para me queixar. Há-que ser justo.


PS: Estive na primeira fila da FNAC para ver os Deolinda, foram obviamente fabulosos e lembravam-se do estrondoso concerto de Ourique há 3 anos e isso é que fez a minha semana. 

quinta-feira, março 21, 2013

Mundo Pequenino


Pronto, já passaram 3 dias e estou portanto em condições de dar a minha opinião acerca do "Mundo Pequenino" dos Deolinda. Tudo bem que eu sou suspeito, mas por gostar demasiado deles, a minha opinião também se torna mais crítica. Há sempre o receio que apareça um álbum que não faça jus aos anteriores, tal é a expectativa que coloco nesta banda. Pois bem, aquilo que os tornou conhecidos no "Canção ao Lado" e no "Dois Selos e Um Carimbo" não é perdido neste terceiro disco. Continuam fiéis a si próprios, com características que os distinguem de tudo o resto. Não é pop, não é fado, não é música ligeira nem brejeira mas sim uma miscelânea de influências, sonoridades e emoções que aproximam a música das nossas vidas. É uma música que identifica uma geração, uma espécie de Sérgio Godinho dos nossos tempos, com a qual nos podemos identificar, canção após canção. 
Eles não cantam mais do que as nossas vidas - cantam aqueles momentos em que secretamente desejamos o mal dos outros. Cantam aqueles amores destinados a ser vividos na clandestinidade. Cantam sobre as borboletas com que ficamos perante o sorriso da pessoa que gostamos. Cantam sobre a inércia que nos assola e as desculpas que inventamos para justificar a nossa inoperância. Cantam sobre a burocracia e falta de celeridade. Cantam sobre o sentimento egoísta de desejar que os melros cantem apenas na nossa gaiola. Cantam sobre as manias de grandeza e pela necessidade de parecermos melhor que o vizinho. Cantam sobre marinheiros de água doce que fazem mas não acontecem. Cantam sobre as nossas dúvidas em relação ao amor, ao país, ao futuro. Cantam sobre nós e somente isso. 
E cantam em português. Não que eu seja fundamentalista em relação aos cantores portugueses cantarem na sua língua materna, não o sou e posso disparar excelentes exemplos assim de repente - David Fonseca, Luísa Sobral, The Gift, Lúcia Moniz, e por aí fora - mas nada se equipara à emoção de uma canção bem feita na nossa língua. As letras continuam a ser maravilhosamente elaboradas pelo Pedro da Silva Martins que se tem revelado um poço de fertilidade musical inesgotável, transbordado-o para outras paragens - a Cristina Branco, a Ana Moura, o António Zambujo e NÓS agradecemos. A Ana Bacalhau, com a sua voz grande, inteira e em que nada exagera ou exclui, põe quanto é naquilo que faz (perdoem-me a fácil mas perfeita comparação Pessoana), obrigando-nos de livre e espontânea vontade a ouvir as suas histórias até o fim. A atitude, a personalidade, a energia são incomparáveis. Juntam-se ainda o Luís José Martins e o José Pedro Leitão para compor o quarteto maravilha e estamos perante uma banda, aos meus olhos, mítica. 
Já tive o prazer de os ver nas mais variadas ocasiões e de os conhecer a todos numa dessas em particular - na festa do porco preto em Ourique em 2009. Pode não ter sido a oportunidade mais requintada de todos os tempos, mas ao conseguir ficar na fila da frente e após ter cantado as músicas todas de uma ponta à outra com um grupo de pessoas que até hoje lembra esse dia com saudade, fomos convidados pela Ana Bacalhau, ainda em cima do palco, a ir ter com eles aos bastidores e assim o fizemos. Um privilégio. 

O "Mundo Pequenino" é maravilhoso e vou ouvi-lo ao vivo já no Sábado na FNAC do Chiado. A contar as horas. 

segunda-feira, março 18, 2013

Segunda-Feira


Por algum motivo que desconheço, as segundas-feiras sempre foram dos meus dias preferidos. Se a segunda-feira fosse uma estação era a Primavera. Representa um recomeço, um novo ar, uma página em branco. Hoje é segunda e sinto-me leve. 
Sai hoje o "Mundo Pequenino" dos Deolinda e estou a contar os minutos para levantá-lo. Chegou hoje à Sé a encomenda de Páscoa da Julianinha e sabe tão bem receber correspondência da mãe, ainda para mais recheada daquilo que dá nome a este blogue. As flores estão a desabrochar. Está um dia maravilhoso, ando de t-shirt na rua e faltam 5 dias para a chegada oficial das andorinhas. 

Hoje vivo com a sensação de ser o primeiro dia do resto da minha vida. 
E é mesmo.


domingo, março 03, 2013

"You're old, scared and lonely"


What have I become
My sweetest friend
Everyone I know
Goes away in the end



"Não sei lidar com o avançar da idade, as doenças a aparecer, o corpo e ceder, a juventude a se esvair. Pensava sempre que isso só acontecia aos outros e não me apercebi que eu próprio não estava imune a este destino. Não sei se hoje serei aquele que eu ambicionava, e parece que já é tarde demais para alcançá-lo. Vejo os meus netos a vir a este mundo e tenho estado sempre lá a recebê-los nos meus braços, um por um. Como se eles fossem as tenras folhas verdes dos ramos de minha árvore, lembrando-me que tudo pode mudar num pequeno instante. Vejo os meus amigos a despedir-se deste mesmo mundo e tenho estado sempre lá a acenar-lhes uma última vez, um por um, e dou por mim a pensar quando será a minha vez. Se os meus filhos e os meus netos ficarão bem sem mim. Se eu fiz a diferença nas suas vidas. Vivo obstinado com a ideia de que posso não ter deixado uma marca. Sei que em poucos anos, uns 15 ou 20 talvez, já ninguém se lembrará de mim e isso não me preocupa seriamente. Mas gostava que a minha família mantivesse uma fotografia minha. Minha não, nossa. Da nossa adorável família, em cima de um móvel ou de uma cómoda e que não tivessem vergonha dela quando os seus amigos fizessem troça da antiquíssima fotografia já sem a cor original ali prostrada. Sei que chegar aos 60 e muitos anos com a família e os amigos que ainda por cá andam é considerado uma bênção, mas ao mesmo tempo não consigo perceber porque não me ensinaram a envelhecer, porque não me explicaram que o que vejo no espelho é algo bonito. É-me tão difícil aceitar que não sou mais do que folhas de Outono prestes a descolar dos ramos que vi crescer. 
Entende agora o que eu lhe quero dizer?"

If  I could start again
A million miles away
I will keep myself
I will find a way.