domingo, junho 28, 2009

Quem quer ir...



à Katy Perry?

19 Horas para 24

O Pedro esparramou-se no sofá? Esparramou-se sim senhor.

O Pedro devorou o tal gelado a que se tinha proposto? Devorou sim senhor.

O Pedro viu o programa sobre o Michael Jackson e ficou agoniado com a personagem deprimente que ele era? Viu e agoniou sim senhor.

O Pedro pensou que era a última noite com 23 anos e que devia ir tomar um copo depois das 2 da manhã? Pensou e bebeu sim senhor.

O Pedro encontrou imensos amigos e ficou feliz por ter saído e convivido com eles, derivado que não vai fazer festa? Encontrou e ficou feliz sim senhor.

O Pedro teve pena de não estar com o Rúben, com a Laura e com o Miguel? Teve sim senhor, mas sabe que com eles o festejo merece ser melhor do que uma mera saída à noite.

E foi isto.

E chegou a casa. Sóbrio. Ainda com 23 anos.

E feliz, como tem sido.

24 Horas para 24

São 00h15, é Sábado à noite e estou de "férias". Podia sair? Podia sim senhor.

Faltam menos de 24 horas para o meu aniversário? Faltam sim senhor.

Devia ir para o Bairro Alto aproveitar a minha última noite com 23 anos? Devia sim senhor.

Vais ficar em casa de boxers e de óculos "fundo-de-garrafa" esborrachado no sofá a ver um programa de tributo ao Michael Jackson, empaturrando-te de gelado de Stracciatela da marca Pingo Doce? Vais sim senhor.

É a isso que se chama "depressão pré-aniversário"? Se isso existir, não temos dúvidas que sim.

sexta-feira, junho 26, 2009

Dono de Casa Desesperado


Mãe, isto escrevo para ti:

Agora sim, sei o que custa tratar de um lar. Os meus dias começam a ter uma rotina com a qual nunca tinha lidado antes. Há sempre louça que não se lava nem se guarda sozinha, vá lá, até consegue secar se a deixarmos no escorredor de um dia para o outro, e é incrível a quantidade de louça que se suja para fazer um almoço ou um jantar simples. Será de mim que não sei fritar um ovo sem sujar 2 frigideiras, uma panela, 2 pratos e 3 talheres? Alguém que me diga que lhe acontece o mesmo, por favor. E depois a sujeira. Meu Deus, aquilo salpica e respinga para todo o lado, parece um espectáculo pirotécnico com comida, o que não tem grande piada quando falamos da nossa cozinha. E eu sou a favor que as coisas que estão a ser cozinhadas não devem ter vida própria, devem mas é permanecer quietinhas na frigideira ou na panela, porque se eu quisesse comida viva, comprava galinhas e porcos, não os bifes já cortados naquelas embalagens de esferovite. Quer dizer, não que me importasse de ter um ou dois bichos destes, mas num T2 pequenino acho que seria muito ser vivo a partilhar o mesmo ar e só Deus sabe como o preço do ar está pela hora da morte. Adiante, porque é que o simples facto de ter um prato, um copo e dois talheres no lava-loiça dá a imagem de desarrumação total à cozinha? Quando eu passava os fins-de-semana sozinho aí no Funchal eu deixava acumular a loiça de 2 dias e a balbúrdia não parecia ser tanta, apesar de se construirem montanhas com as coisas para lavar. Se calhar porque agora esta é a minha casa e não a vossa. É capaz de ser isso.



E todo o processo de lavar, estender, retirar e dobrar roupa? Nem falo em engomar, pois nem tábua temos ainda, mas mesmo que a tivéssemos acho que pouco ou nada a utilizaríamos, apesar de bater a saudade de uma bela t-shirt engomada. Uma delícia. Deveria existir uma máquina que fizesse isso tudo por nós, e que ainda arrumasse as roupas no closet, se não fosse pedir muito.

A cama, agora é feita todos os dias. Acabaram-se os velhos tempos em que a cama apenas estava arrumada uma vez por semana, que era quando se trocava os lençóis. Tu já tinhas desistido de mim, já nem me pedias para fazê-la, mas estava na hora de atinar um pouco, e acho que me rodeei de pessoas organizadas aqui em Lisboa, que de certa forma me ajudaram a ganhar o belo do hábito. Roupas jogadas pelo chão do quarto, nem vê-las. Acabaram-se os montes Everestes que montava em todos os espaços livres do quarto aí de casa, com roupas que nunca mais acabavam. E depois há sempre aquelas coisinhas que supostamente têm lugar próprio, mas que teimosamente estão nos sítios errados e precisam reencontrar o caminho para casa. Engraçado como não se dá conta destas pequenas desarrumações progressivas e quando olhamos em volta, temos um prato para levar para a cozinha, uma cadeira fora do sítio, revistas e livros nos lugares errados, lenços espalhados, uma chave de casa, uma carteira, uns cartões, uns trocos, tudo aparece em sítios onde não deviam estar, sabe-se lá porquê.

As limpezas e lavagens do chão e casa-de-banho normalmente não as faço porque o Rúben gosta mais disso do que eu, mas também isso exige limpezas. O pó aparece em todo o lado e às vezes parece que quando o pó nos vê de pano na mão, começa a levitar e depois do pano passado, volta a assentar. Começo a acreditar nesta teoria.

Depois há ainda temos o lixo, que se enche num ápice e é preciso estar sempre a mudar de sacos, isto para além dos produtos para a reciclagem que às vezes nos fazem perder tempo a pensar para que caixote é que devem ser enfiados.

Olha, é assim. Ser dono de casa é uma tarefa complicada. Foram precisos 23 anos para reconhecer tudo o que tens feito. Reconheço agora todo o teu empenho, determinação e capacidade de gestão e organização. Valorizo agora o facto de chegares a casa do trabalho e começares logo, sem paragens para descanso, a arrumar o que de arrumação necessita. A roupa para lavar, estender e dobrar, o jantar para fazer, as plantas para regar... E tudo isto sem reclamar nem exigir nada em troca, e muitas foram as vezes que um simples elogio ao jantar ou um reconhecimentozinho podiam ter sido dados, mas a verdade é que as pessoas que não fazem nada em casa, não conseguem valorizar quem o faz. És o altruísmo em pessoa.

Portanto agora te agradeço Julianinha, por nunca me ter faltado roupa fresca e dobradinha na gaveta, boa comida na mesa e toda a organização com a qual me rodeaste e que eu julgava que se fazia por si mesma. Afinal não.


E agora para completar a homenagem, além do cabelo rapado a máquina 1, vou tatuar nas costas qualquer coisa com caveiras e "Amor de Mãe" e fazer um piercing no nariz e na língua.


quinta-feira, junho 25, 2009

"Little Red"

Well, this little girl grew up and moved away.

And she lived her life full of risk and full of play.

And she lived her life with so much to say,

And her flowers, they grow more beautiful every day.


Pedacinhos do meu puzzle

É tarde.

Mergulho no meu mundo cheio de fotografias minuciosamente organizadas. A única organização que sempre mantive, mais do que as folhas e as papeladas da universidade, mais do que meu quarto "eternamente" de cabeça para o ar, mais do que as minhas ideias e sonhos desvanecidos e perdidos com os relógios dessincronizados.

Sorvo com especial prazer cada cor que julgava desbotada, percebendo afinal que as cores das fotografias não têm necessariamente de se apagar com o tempo. Podem transformar-se, é verdade, mas uma relva verde ou um mar azul escuro não perderão a sua cor ao longo do calendário, estão sim fatidicamente destinados a carregar em si uma impressão digital, uma alma, um pedacinho do puzzle. Isso ninguém lhes pode tirar. E não voltarão a ser repetidas.

Remeto-me para cantos escondidos e abro-lhes os cortinados até brilharem resplandescentes. São partes de mim.

Partes divertidas.

Partes de crescimento.

Partes de aprendizagens.

Partes de parvoíce.

Partes de amor e de amizade.

Partes de saudade do que se teve e não se poderá voltar a ter.


E eu não sei o que seria de mim sem as minhas fotografias. Sem as minhas histórias de encantar e sem as minhas metáforas inenarráveis. Não que não as conte, mas porque não são de fácil percepção. Nem interesse. Tenho em mim coisas que não consigo partilhar e isso aconchega-me.

É tarde para fotografar o que já passou. É tarde.

É muito tarde.
Ou talvez cedo demais.





segunda-feira, junho 08, 2009

Estrela da Tarde


Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!




José Carlos Ary dos Santos



Fotografia de Guido Cozzi