Chegado a casa, há malas por arrumar e roupa para lavar. Um monte de roupa suja espera, espalhado no chão do quarto, pelo turbilhão da máquina de lavar há já demasiado tempo. Está na hora de dividir a roupa por cores, naquele ritual sempre impreciso e incerto, não vão as cores se misturar todas e transformar as cores vivas em tons pálidos, acinzentados. Continua a ser um processo que desempenho com apreensão, daí ter recorrido a todos os meios ao meu alcance para me proteger, digo, as roupas. Escolho o melhor detergente, uso toalhitas para evitar a transmissão de cores e até leio as etiquetas. Já sofri demasiados danos anteriormente e alguma coisa tive de retirar dessas asneiras. Todos devíamos ler as letrinhas pequenas.
Sento-me à frente da máquina e observo o rebuliço que acontece lá dentro. E consigo lembrar-me do que fiz com aquelas roupas vestidas. Lembro-me dos passeios na praia, das subidas a montanhas, das noites clandestinas adormecidas no sofá, dos passeios de bicicleta, das escapadelas para telhados instáveis, das fotografias tiradas de braço esticado e das escadas dos 4ºos andares.
É sempre um (demasiado alto) 4º andar.
Até que aparece a espuma a turvar o interior da máquina. E penso que se calhar misturei roupa a mais, mas com sorte, talvez as cores não se misturem desta vez.