sexta-feira, abril 22, 2011

"When We Were Young"

Tranca a porta. Não arrisques que alguém entre sorrateiramente e nos apanhe abraçados. Deixemos aquela interrogação no ar. Gosto que nos amemos em segredo na mesma cama. A ideia de ter de desfazer propositadamente os lençóis intactos pela manhã proporciona-me um prazer estranhamente delicioso. Houve umas vezes que nos esquecemos de o fazer, recordas-te? Independentemente do calor lá fora as nossas peles insistiam em colar-se naquela simbiose perfeita com o meu braço à tua volta, como gostávamos de adormecer. Tínhamos isso bem definido. A tua pele e o teu cheiro. Nem preciso fechar os olhos. Naquele mundo rosa e verde.

Vou dormir. O meu corpo está cansado e os meus reflexos reavivaram-se momentaneamente e não me interessa ficar sem sono. Não hoje.

sábado, abril 09, 2011

The Cherry On My Cake

É Sábado, não há trabalho hoje e está uma tarde magnífica. Preparei peixe no forno com ervas chinesas e fui almoçar para o telhado. Na cabeça os auscultadores que eu há muito desejava com Luísa Sobral a tocar no iPod. Aquele jazz suave que é já a minha banda sonora nas tardes e noites de chill-out desta Primavera e do Verão que se aproxima. Uma vista invejável a partir das águas furtadas, nem sempre apreciada ao longo do resto do ano. Deitei-me, fechei os olhos e realizei que este era um momento para não deixar esquecer. Tenho uma vida mesmo muito boa.

"I Ain't Lost, Just Wandering"


Nada mudou.

Manténs aquele sorriso maroto de criança que mostras na fotografia que afixaste no teu quarto. Aquele mesmo sorriso, porém, hoje, já sem a ingenuidade que as cicatrizes da vida te impuseram nos intervalos do entretanto. Ambos sabemos como é difícil ocultá-las. Decidiste então deixá-las bem expostas, na esperança que a erosão dos dias e dos meses faça o que tem a fazer, tornando-as obras de arte toscamente polidas, cheias de histórias para contar. Como qualquer artista, rebelde, serás sempre aplaudida de pé por alguns, incompreendida por muitos, mas no teu teatro são poucos aqueles que realmente queres manter na plateia.

Escrevi-te uma peça.

E a minha parte favorita é aquela em que estás a conduzir por estradas vazias a alta velocidade com o vento a roçar-te a pele. Estás em silêncio e os teus óculos de sol tornam tudo cor-de-rosa. Os campos sem casas à tua volta, as nuvens outrora brancas e um sol quente de final de tarde que anuncia um pôr-do-sol memorável. Chegas finalmente ao teu destino, aquela praia larga e deserta que ficou vazia de propósito para ti e ficas por lá até os últimos raios de sol desaparecerem no horizonte. Sabias que estaria deserta.

Podia ter destacado peripécias mais mirabolantes, mas gosto de ti neste registo que poucos conhecem.
Em tons carne-viva,
com um coração a bater fora de ti,
desprovida de roupas e de armas que nos sentimos obrigados a usar todos os dias.

Lembro-me de teres ficado revoltada quando percebeste que vesti armadura e comprei um arsenal de armas para sobreviver nesta cidade, como se me tivesse esquecido dos trilhos percorridos pelos tais campos com nuvens cor-de-rosa que soubemos partilhar em silêncio. Aquele silêncio de levar às lágrimas sem ser necessário explicações adicionais.

Teremos sempre uns óculos que tornam tudo cor-de-rosa.
Teremos sempre terra para palmilhar e finais de tarde inolvidáveis.
Teremos sempre o ombro um do outro para encostar e chorar.
Teremo-nos sempre, independentemente do que vier.

I’ve been walking in the same way as I did
Missing out the cracks in the pavement
And tutting my heel and strutting my feet
“Is there anything I can do for you dear?
Is there anyone I can call?”
“No and thank you, please Madam.
I ain’t lost, just wandering




segunda-feira, abril 04, 2011

"Apagou-se tudo, até a luz"



Podia ser a frase do Tiago cá em casa ao aperceber-se que eu me tinha esquecido de pagar as contas da EDP, mas não foi. Foram as sábias palavras do Pinto da Costa, esse primo em 3º grau do Mário Soares, pelo menos a julgar pelas bochechas de São Bernardo onde parece que escondem amendoins que não querem partilhar. Foi bonito, mas nada previsível. Ora deixem cá ver:


- Calorosa recepção na capital com pedras de calçada portuguesa, confirmado.


- Penáltis "claramente injustos", de acordo com os treinadores de bancada, confirmado.


- Mais do que uma expulsão, uma para cada lado para não ferir susceptibilidades e para evitar homicídios anunciados dentro do rectângulo de jogo, confirmado.


- Jogadores a imitar cortadores de relva pelas pernas acima uns dos outros, confirmado.


- Frango à supositório como prato do dia, patrocinado pelo cozinheiro Roberto, confirmado.


- Apuramento para o campeonato mundial de mergulhos para a relva, confirmado.


Nada de novo, portanto. Foi simpático da parte do Benfica terem apagado as luzes do estádio, o Hulk e o Guarín ficam mais fotogénicos na penumbra,até porque não forma propriamente abençoados por Deus na hora da criação, mas confesso que fiquei à espera que entrasse um bolo de aniversário cheio de velas a qualquer momento e que tivessem organizado uma festa de aniversário surpresa a alguém. Foi também muito querido quando accionaram o sistema de rega, a julgar pelo ar de alguns jogadores no final do jogo, o cheiro não devia ser o melhor ali junto ao relvado. Cheirou a muita pena chamuscada, daí provavelmente não se ter visto a "Dança da Galinha" por aquelas bandas. Mas vá, nem tudo está perdido. Afinal de contas ainda têm mais 5 jogos durante os quais vão poder exibir as insígnias de campeões. Por agora vou dormir que o futebol não me tira o sono atrasado das últimas semanas nem arranja alguém que me substitua amanhã às 7h30 no trabalho. Abraços para todos, em especial ao Roberto que foi nesta época um dos principais reforços do FCP. Para o Jesus não vai nada porque ninguém me tira da cabeça que a qualquer momento vai saltar uma ratazana do cabelo dele e eu não gosto de bichos que vivem em sítios onde não se vê água há muito tempo.