a felicidade eterna: a bem-aventurança.
Procurei-a no dicionário e foi isto que encontrei.
Nalguns momentos esse pode parecer o único sítio onde a podemos encontrar, mas espero não ter de recorrer muitas vezes a ele. Eu decidi ser feliz, é uma opção que eu tenho. Não preciso ser sempre, sempre a toda a hora, até porque sei que isso não vai acontecer senão não teria termo de comparação que diferenciasse as coisas boas das menos boas. Prefiro dizer "menos boas", mais uma vez alegando o cliché do "copo meio cheio", mas o que estou prestes a escrever não tem a leviandade de um cliché repetido em centenas de e-mails e frases inspiradoras. Tem na verdade uma profunda leveza que me eleva a estados de nirvana impressionantes há muito almejados. Sempre fui adepto de celebrar as pequenas coisas da vida e posso orgulhar-me de o praticar no dia-a-dia. Não somos mais que meros grãos de areia neste mundo a viver uma vida fugaz que depressa nos escorre pelos dedos e não tenho tempo nem energia para ser consumida com as irrelevâncias que não me vão ajudar a alcançar e permanecer nesse estado orgásmico que é a felicidade.
Estou numa fase de felicidade extrema e não tenho problemas em gritar isso ao mundo, em alto e bom som. Não é minha intenção esfregá-la na cara de ninguém como uma conquista egoísta, é minha intenção e dever partilhá-la porque ela só é real quando partilhada.
Já estão comprados os bilhetes para viajar para Amsterdão, Berlim e Paris perto do final do ano com a Sofia, a espontaneidade de viajar com ela e vaguearmos ao sabor do vento deixa-me de sorriso na cara. Vou ver a Nádia em Berlim e vamos ouvir e cantar "Florence + The Machine", mas o facto de estar com ela é o que mais me entusiasma, a prova viva de que uma amizade pode ultrapassar as barreiras temporais e geográficas e permanecer incólume, acompanhada daquele humor tão próprio de nós. Até porque a Florence eu vou poder ver na primeira fila dentro de alguns dias em mais um festival de Verão e vou poder berrar com ela que os "Dog Days Are Over". Uns dias antes vou, também na linha da frente, saborear mais uma vez a minha querida Regina e envolver-me naquela magia que só ela sabe fazer ao piano. Estou quase a regressar à MINHA ilha, ao meu âmago, ao meu porto de abrigo que é o Porto Santo, é já em Agosto e não posso deixar de contar os dias para estar com a minha família. Sinto muitas saudades do rebuliço da Vila Palmeira, a azáfama tranquila de um sítio onde nos regemos apenas pelas horas dadas pelo sol e não pelos relógios que nos orquestram o dia-a-dia durante o resto do ano. Falo muito disso com a Leonor e já temos planos para os nossos dias cheios de tudo. A minha buganvília pendurada na janela está a florescer cada vez mais e por muito estranho que isso possa parecer, sou feliz a cada flor que desabrocha, apesar de já ter perdido a conta aos botões novos que despontam a cada dia. Miguel, lembras-te daquela tarde de Sábado em que nos jogámos nos puffs da praia do Castelo a ouvir aquela banda a tocar músicas que nos encheram o peito? Prometemos repetir mas acabámos por repetir a ida a outras praias não menos deslumbrantes na semana seguinte. Recebi dois postais de aniversário pelo correio! A infalível Tia Helena, sempre fiel aos seus envelopes e postais cheios de autocolantes continua a enviar um pouco de amor a toda a família a partir da sua casa nos arredores de Londres numa caligrafia inesquecível. O outro veio da Madeira, dos edifícios Dom João, começando a tornar-se uma tradição deliciosa. E foi de lá que chegou o primeiro telefonema de Parabéns, pela voz da Julianinha, a minha querida mãe que vai com toda a certeza ligar-me logo que terminar de ler esta publicação porque é mais fácil do que comentá-la por escrito, sempre atrás de um anonimato para me deixar baralhado. O Norberto não deve ler isto, o meu blogue, e é bom que não o faça porque senão sou deserdado. Logo de seguida veio a Sofia, como não podia deixar de ser. E depois a Avó Juliana, de quem eu morro de saudades a cada dia que passa. Não esqueço a alegria e rebaldaria que acontece nos almoços na Fernão de Ornelas, onde estava grande parte da família Espírito Santo no meu dia de anos, não por ser o meu aniversário mas por ser (mais um) momento de reunião familiar à volta de uma mesa redonda que já presenciou tantos momentos fabulosos, não apenas gastronómicos. Um telefonema apenas que permitiu perceber o quão unida e resplandecente CONTINUA a ser a nossa família. Tenho um orgulho grandioso nela. E aquela tarde passada no meio da serra, entre mergulhos, vinho verde em copos que se enchiam um atrás do outro como por magia, e conversas com algumas das pessoas mais interessantes que alguma vez conheci. O dedilhar de uma guitarra durante um jogo de futebol que me fez esquecer qualquer entusiasmo que pudesse daí advir, é que eu nem quis saber se tínhamos vencido ou perdido. Estava demasiado inebriado pela grandeza das pessoas que me rodeavam, pelas notas libertadas pela guitarra e pelo ar puro que se respirava. O primeiro toque. A primeira junção de mãos. A procura de momentos a sós onde os olhares pudessem ser trocados sem restrições. O coração a querer pular cá para fora, o desejo de um beijo e mais outro e mais outro. Existe melhor cereja no topo do meu bolo do que a sensação de me estar a apaixonar? E não, não quero saber da brevidade e prontidão com que digo estas coisas, acho que toda a gente já conhece os meus impulsos e eu não sou de guardar as coisas que tenho para dizer e VIVER para mais tarde. Tarde, seria não o dizer no exato momento em que as coisas são sentidas. Não sei o dia de amanhã, nem sequer sei o que vai acontecer às 16h desta tarde, mas sei que a esta hora escrevo estas coisas com toda a certeza de que é o que quero escrever. E quando o Tiago me surpreendeu com um bolo de profiteroles na minha chegada a casa? Foi mais um daqueles momentos soberbos, até porque eu comi os profiteroles todos sem ficar com peso na consciência e aposto que também não no corpo. Essas calorias não contam certamente. O almoço à beira-mar, a luz que se fez nesse dia. A reunião de algumas das pessoas mais importantes para mim ao final do dia, naquela que foi, a meu ver, a melhor celebração da casa da Sé. Foi uma noite de consagração que exacerbou ainda mais as coisas que tenho vindo a sentir. Apercebi-me como consigo ser imensamente feliz também com a felicidade dos outros. Aconteceu quando vi a alegria e admiração estampadas na tua cara ao ouvir os "Búzios" da Ana Moura, provavelmente a mesma cara de parvo que fiz durante o "Flagrante" da António Zambujo. E como quis fotografar a cara de êxtase da Marina ao vencer pela 5ª vez consecutiva com o seu Coltraine. Acho que vivi a vitória juntamente com ela, pelo menos durante os parcos segundos em que a vi celebrar com uma alegria contangiante. Pela primeira vez, partilhei a lambreta, "eu juro que guio devagarinho, tu só tens de estar juntinho, por questões de segurança" e foi assim que aconteceu. Soube ainda melhor do eu imaginava. Atravessámos a ponte ao som das músicas que já fazem parte de um repertório que será guardado para posteridade. Partilhei genuinamente os interesses por mundos que me eram desconhecidos e consolidei a ideia do Chistopher McCandless que dá título a esta publicação. A felicidade apenas é verdadeira quando partilhada.
E eu estou feliz como há muito não estava. Feliz e apaixonado pela vida, pelos meus amigos, pela minha família e por quem me preenche o coração de tal forma que parece prestes a saltar para fora do peito.