Boa noite,
Venho por este meio reportar uma
situação que aconteceu hoje numa loja vossa, mais concretamente, no Chiado em
Lisboa. Tendo em conta que a minha história não foi bem compreendida pelos funcionários
da loja, explicarei tudo direitinho por escrito.
Dirigi-me à vossa loja para efetuar
um simples carregamento do telemóvel, um ato pouco comum, já que costumo
faze-lo sempre através do multibanco, mas na impossibilidade de o fazer, optei
pela loja. Tirei uma senha e calhou-me o número 57 e a contagem ia no 54.
Aguardei um pouco, já que tinha apenas duas pessoas à minha frente para além da
que já estava a ser atendida. No entanto o atendimento parecia estar a demorar –
estavam 4 funcionários na loja – e cerca de 10 minutos depois, decidi abandonar
a loja para tratar de outros assuntos, deixando o “cliente 54” ainda a ser
atendido. Fui tratar da minha vida e cerca de 25 minutos depois, e acredite, eu
tenho muita noção do tempo, voltei à loja, mas entretanto tinha deitado a senha
57 no lixo já que acreditava que o meu número já tivesse passado. Enganei-me,
afinal ia no número 55. Podia queixar-me desde já da velocidade de atendimento,
mas assumi que os clientes anteriores a mim tivessem problemas muito
complicados para resolver. Tendo deitado a senha 57 num caixote do lixo à
entrada dos Armazéns do Chiado, decidi esperar pela minha vez sem tirar nova
senha, afinal de contas, a não ser que o dispensador de senhas estivesse
avariado, não deveria aparecer mais alguém com o mesmo número. Como o
atendimento parecia estar encravado no 55, aproveitei a até fui deitar o
euromilhões. Quando voltei dessa minha empreitada que durou cerca de 5 minutos,
o número 55 ainda aparecia no visor, mas felizmente não demorou a passar para o
56 e como não apareceu ninguém, passaram para o 57. Dirigi-me ao balcão e a
vossa funcionária pediu-me a senha, ao que expliquei a situação descrita
anteriormente de forma resumida, nunca pensando que a ausência de senha fosse
causar qualquer tipo de constrangimento. Mas foi-me recusado o atendimento. Eu
continuava a julgar que essa situação seria facilmente ultrapassável referindo
que como ela devia ter percebido, mais ninguém se aproximou do balcão quando o
número 57 finalmente piscou no ecrã. E o atendimento continuou a ser recusado
sempre com o argumento de que sem senha não me iria atender. Voltei a explicar
a história da senha que minutos antes tinha deitado no lixo, por julgar que já
tivesse passado a minha vez mas a funcionária manteve-se irredutível. Perguntei-lhe
se não acreditava que eu tinha tirado a senha 57 mas não obtive resposta
afirmativa nem negativa, apenas o argumento de que há pessoas que passam à
frente de outras fingindo ter os números de pessoas que entretanto desistiam da
espera (pelos vistos a espera é algo comum na loja, até a vossa funcionária o
assumiu). Depreendo portanto que não acreditou na minha história e que eu era
provavelmente mais uma dessas pessoas que ficam à coca da senha perdida para
passarem à frente das outras pessoas. Perguntei-lhe uma terceira vez se não me
podia atender e recusou novamente, pedindo para tirar nova senha. Expliquei que
se tinham demorado mais de meia hora para avançar com 3 números, isso
obrigar-me-ia a esperar no mínimo mais meia hora e que sendo o meu pedido algo
tão simples e rápido como um carregamento, provavelmente já estariam a atender
o cliente 58, 59 ou na loucura, o 60 se tivesse agilizado uma situação que era
extremamente simples desde o início. Tive de pedir para falar com algum
responsável e até esse processo conseguiu ser demorado, não sei o que se passa
no back-office, mas por momentos a minha imaginação levou-me a pensar nas
escadarias infinitas da estação de metro do Chiado – mas vá, ironias à parte,
presumo que a funcionária estivesse a explicar a situação ao rapaz responsável.
Chegou o responsável e a funcionária pôde chamar o número 58. A segunda
conversa foi exatamente a mesma, expliquei a mesma história e o rapaz esgrimiu
os mesmos argumentos que a sua colega. Esta conversa demorou um pouco mais
porque dei por mim a repetir segunda e terceira vez as mesmas coisas, incrédulo
por não estar a acreditar que não me iriam mesmo atender. À pergunta “Você está a duvidar que eu tinha a senha
número 57?”, também não me respondeu nem que sim, nem que não. Uma forma
politicamente correta de dizer que não. Talvez não ajudasse eu ter uma sweat do
“Sponge Bob” vestida, mas quero acreditar que o tratamento não varia em função
da roupa que as pessoas trazem vestidas, apesar de ser uma boa experiência a
fazer um dia destes em que eu tenha IMENSO tempo livre para me dar ao trabalho.
Expliquei ainda que eu lido diariamente no meu trabalho com clientes que quando
me procuram, esperam ser atendidos com a maior simpatia, eficiência e eficácia –
qualquer um deles falhou convosco. Talvez vos atribuísse a eficácia, se me
tivessem resolvido o simples problema de carregamento do telemóvel, mas a única
coisa que vos gabo é a conformidade de discurso, apesar de ridiculamente
inflexível.
Afinal de contas eu só queria dar
dinheiro à empresa que vos paga o ordenado. Sou vosso cliente fiel há mais de
13 anos e nos últimos anos o meu grau de satisfação tem vindo a decrescer e
hoje atingiu o fundo do poço. Ainda estou boquiaberto com a inflexibilidade e
falta de tato dos vossos funcionários que aliás, não tinham identificação na
lapela, no meu local de trabalho isso impedir-me-ia de cumprir com as minhas funções,
no vosso não, pelos vistos.
Resumindo, voltei para casa sem o
telemóvel carregado e por essa razão, não posso contactar os meus clientes – com
sorte, talvez eles não se lembrem de escrever no livro amarelo a queixar-se da
minha falta de falta de profissionalismo. Espero ao menos que acreditem na
história com que me irei desculpar, já que os vossos funcionários não
acreditaram na que lhes contei.
Já agora, quando abandonei a loja,
o cliente 58 ainda não tinha sido despachado. Até nos departamentos das
Finanças e nas Lojas do Cidadão conseguem resolver problemas com maior
celeridade e, espante-se, cordialidade. E lembre-se daquela vez, que já aconteceu
concerteza, em que nalgum desses sítios burocráticos ou até num simples
supermercado, deixou passar a sua senha e foi atendida na mesma sem precisar
tirar novo número, com um sorriso na cara. Mandem os funcionários ao meu
supermercado, se quiserem dou-vos a morada. A senhora da peixaria teria muito
para lhes ensinar.
Com os melhores cumprimentos,
O insatisfeito “Cliente 57”,
Pedro Andrade
O seu pedido foi enviado com sucesso. Estimamos responder-lhe nos próximos 3 dias. Obrigado.