Ora bem, façamos as contas dos seres vivos que moram na casa da Madalena:
1 - Rúben
2 - A minha pessoa
3 - Um aloé vera
4 - Uma planta do Porto Santo
5 - Uma lata de trevos de 4 folhas
6 - Um bicho que faz buracos na parede
7 - Milhares de bichinhos brancos nos móveis
8 - Uma osga chamada Olinda
9 - Fungos de várias cores e feitios
10 - Os peixes
Feitas as contas, vamos agora tentar descobrir quais são os que estão a mais. Têm 30 segundos para analisar bem. Já está? Óptimo.
Não começo a minha análise pelo Rúben, pois esse até paga renda e tem direito a cá estar.
O aloé que eu comprei há uns meses com tanto carinho, na intenção de tentar descobrir se é possível existir vida para além do ser humano dentro desta casa, veio provar que sim, é possível. Porém, penso que sofre de nanismo. Só lhe vi crescer uma folha que tem agora uns 7 cm e começa agora a despontar uma outra. É muito atrasadinho o Aloé. E pior é que durante este Inverno que JÁ TERMINOU, resolveu criar bolor no belo vaso, devia sentir-se muito sozinho.
A planta do Porto Santo, essa sim, a primeira planta a entrar em casa e não o Aloé como eu disse em cima. Quer dizer, a primeira depois do manjerico dos Santos Populares que morreu, acredito eu, pelo sal na terra que os vendedores põem propositadamente para secar a planta. Não me lembrava dele, mas agora também é tarde para eu emendar o que escrevi em cima. Voltando à planta do Porto Santo, uma daquelas que com folhas rechonchudas que guarda muita água, não era à partida um grande desafio. Mal precisava regá-la para garantir a sua sobrevivência. Pequeno problema, quer-me parecer que, apesar de eu mal a regar, ela afogou-se na própria água o que é uma forma terrível de morrer aos poucos, apodrecendo de baixo para cima. Ainda tem uns raminhos mas penso que o destino está traçado. Aproveitei e amputei uns ramos que pareciam ainda vivos e espetei-os no cântaro do Aloé, é a última tentativa de salvar a recordação do Porto Santo e dar um amigo novo ao Aloé que agora vai perder os fungos com a chegada do Verão.
Os trevos de 4 folhas, há um mês atrás estavam a germinar e eu contava-os um a um. Agora murcharam todos, não percebi se por excesso de água ou por falta dela. Para todos os efeitos, já não sou supersticioso.
Um destes dias descobri um buraquinho no parapeito da janela. De perto, vi a cabeça de um bicho com corninhos que aos poucos, trazia para fora do buraco umas coisas pretas que não percebi se eram as necessidades do bicho ou a madeira que ele resolveu roer. Enfrentei o bicho e acho que se intimidou, mas só até o dia seguinte quando ele fez outro buraco ao lado do outro. Esperemos que seja apenas um e que não esteja a constituir família.
Já os bichinhos brancos nos móveis que mais pareciam caspa, apareceram do nada e numa hora que mais me apetecia era deitar os móveis fora. Tive de bater à porta da frente para pedir à Deolinda um insecticida e pelo andar da coisa, parece que serviu. Eles morreram e só tive de limpar os cadáveres. Até ver.
A osga Olinda ainda não apareceu este ano, mas aposto que está a hibernar algures nas telhas das águas furtadas, à espera de sol e de apanhar as janelas abertas para voltar a entrar cá em casa à noite com aquela pele asquerosa. Ainda estou para perceber como é que aqueles Varanos de Komodo trepam até o 4º andar de um edifício. Bem que podiam, ficar nos andares abaixo. Já me imagino a apanhar sol no telhado e de repente a apanhar a Olinda ao meu lado de óculos de sol a curtir o calorzinho. E claro, imagino-me a aterrar na Rua da Madalena, porque certamente que o meu primeiro instinto será atirar-me.
Os fungos e bolores, ainda andam pelas paredes e por vezes nos casacos ou objectos que raramente são mexidos, mas eles sabem que a luta deles está a chegar ao fim, agora que vai chegar o sol e o calor.
Os peixes, que são os seres vivos cá de casa que menos aborrecem, continuam a nadar na sua bola, às vezes com água limpa, outras vezes nem por isso. Também passam a vida a defecar, os bichos. Ainda não têm nome, mas também não os quis baptizar antes de chegarem ao 3ºmês de sobrevivência nesta casa, porque a julgar pelas plantas, o jeitinho não é muito.