Há menos de duas semanas conversava com um amigo sobre as coisas que se publicam nas redes sociais e nos blogues. Tudo começou por eu ter questionado a razão para um determinado amigo meu ter publicado um vídeo no "Facebook", que para mim, tinha mais de embaraçoso do que elogioso. Claro que cada frase, fotografia ou vídeo podem ter as mais variadas interpretações dependendo de quem as lê ou vê, e podíamos ficar horas a discutir o que está certo e o que está errado sem chegar a qualquer conclusão. Sou um fervoroso adepto do "Facebook", daqueles viciados que ligam-no quando chega a casa e desliga quando vai dormir, não é algo do qual me orgulhe, mas é um vício terrível sobre o qual nunca dediquei muito tempo a perceber o porquê. Tenho também um blogue, este no qual escrevo, não com tanta frequência como já o fiz, mas que nunca o deixei cair no abandono desde Abril de 2006. Vai fazer 7 anos, ena, ena! Em relação ao "Facebook", não fui dos primeiros a aderir, na verdade acho que quando criei perfil é que percebi que tinha estado pelo menos um ano na escuridão, visto centenas de amigos meus já terem feito dessa rede social o seu local predilecto para escarrapachar tudo sobre as suas vidas. Tudo, ou pelo menos, o que querem que se saiba. Fala-se muito da violação de privacidade, das vidas ficarem demasiado expostas, seja pelas fotografias pessoais, pelos vídeos publicados ou pelas famosas localizações, tão úteis para meter inveja aos outros ou mostrar aos outros onde poderão ser "encontrados". Com tudo o que de mal isso pode ter, acho que acima de tudo não podemos esquecer que cada um coloca aquilo que quer que se veja ou leia, caso contrário escreveriam num diário que escondem debaixo do colchão. A partir do momento em que publicam na internet, é do domínio público, por mais definições de privacidade que tentem colocar.
Nessa conversa, falei ao meu amigo sobre o meu blogue. Começou por brincadeira, numa altura em que era moda ter um site destes e fazer desse espaço uma espécie de diário onde se podia escrever as peripécias do dia-a-dia, os desabafos ou aqueles pensamentos mais rebuscados que nos assolam a mioleira, e que sabíamos, seriam lidos pelo menos pelos nossos amigos bloggers. Na altura não se falava das repercussões "maléficas" que podiam acontecer. Na verdade eu fazia questão de escrever onde tinha sido tirada a fotografia "x" e não me preocupava com a privacidade das outras pessoas sobre as quais falava ou que apareciam nas fotografias. Tirando um ou outro caso onde algum interveniente reclamava ter ficado com cara de bode que levou com uma porta na cara, pedindo encarecidamente, por esse motivo, para eu retirar determinada fotografia. Acontece a todos. Hoje, escrevo muito menos e quando o faço, não é da mesma maneira que em 2006, 2007 ou 2008. Há coisas que eu escrevi e publiquei que não o faria hoje em dia, no entanto nunca apaguei nada. Quando vasculho nos arquivos, até sinto algum embaraço por ter escrito certas coisas e pelas roupas e penteados que usava há não muito tempo. Mas eu era assim, o que se vai fazer? Tenho noção que dentro de 2 ou 3 anos também vou zombar do ser iluminado que eu julgava ser em Janeiro de 2013.
Em relação à pobre Pépa, segui atentamente os desenvolvimentos da sua novela virtual. Antes de qualquer revolução ter começado, vi o vídeo e achei desinteressante. Pensei imediatamente que a miúda estava a aproveitar algum espaço de antena para pedinchar uma mala Chanel a quem se quisesse chegar à frente, ainda assim com o cuidado de mencionar que estava a poupar dinheiro para tal concretização. Mas para mim, o vídeo ficava por aí. Até que a Samsung resolve retirar os vídeos por causa de alguns comentários negativos em relação a este video específico, abrindo a caixa de Pandora da estupidez nas redes sociais. A miúda fala à beta, e depois? Ela deseja ter uma mala Chanel, eu desejo uma viagem à volta do mundo, e depois? Até o Miguel Esteves Cardoso se deu ao trabalho de criticá-la no blogue da Pipoca Mais Doce. E no final de tudo, a Maria João Ruela num entrevista épica no Telejornal da Sic a tentar fazer-se passar por Oprah Winfrey a quem é tudo permitido.
"E a Filipa é assim mesmo, fala daquela maneira?" - E você, acabou mesmo de fazer essa pergunta?
"Acha que num país que vive um momento social que atravessamos hoje em dia, com portugueses com tantas dificuldades, obrigados a emigrar para conseguirem emprego e ganhar dinheiro, esse é um desejo para 2013?" - Peço desculpa por não ter desejado a paz no mundo.
"Mas a sua família já reduziu alguma tipo de coisas que costumava fazer? Quer me dar um exemplo?" - Você precisa realmente saber este tipo de coisas?
"(...) faça-me um verdadeiro desejo para 2013" - E lá perdeu mais uma hipótese de pedir a paz no mundo.
"Estava disponível por exemplo para ajudar uma pessoa que esteja desempregada e que precise de ir a entrevista de emprego a vestir-se bem, acha que isso é um desejo legítimo para 2013, melhor que uma mala Chanel?" - Sim, uma roupita qualquer combinada com uma mala Chanel e o emprego será dela concerteza.
"Mas a sua família concerteza que a ajuda, tem possibilidades para ajudá-la, não é? - Sim, eu adoro a ideia de ser uma jovem adulta que depende dos pais. Até tenho o sonho de viver com eles para sempre, mas isso seria um desejo egoísta.
"E está arrependida do que disse"?" - Claro que estou. Devo um pedido de desculpas a todos os portugueses que me insultaram através dos seus iPhones, iPads, e tecnologias afins da Apple. Agora vou para casa escrever 1000 vezes "Nunca mais ter sonhos em voz alta".
Bem, o que me interessa é que eu vou continuar a ter Facebook, blogue e quem sabe no futuro alguma outra rede social e pretendo continuar a ter a possibilidade de escrever o que bem me apetecer, sem qualquer tipo de censura, a não ser que comece a escrever planos para um bombardeamento ou para entrar numa escola de arma em punho. Aí penso que será boa ideia me deterem. Até lá, espero poder escrever os meus desejos fúteis, os meus pensamentos estapafúrdios e publicar as minhas fotografias idiotas. E espero poder continuar a rir-me de publicações alheias que não aprecio e aceito perfeitamente a possibilidade de eu próprio ser alvo de chacota, até porque nada do que eu publico é feito contra a minha vontade. E tudo o que aparece na net, nunca mais de lá sai.
Não gosto de fundamentalismos, aprecio acima de tudo as pessoas que reflectem nas coisas e que têm bom gosto. E só por isso, a Pépa merecia a mala da Chanel.
E eu uma viagem à volta do mundo. Pensem nisso, está bem?
1 comentário:
bem eu cheguei a gozar da ideia da bolsa chanel. mas a culpa maior é da samsung que devia ter visto como ficou o vídeo e/ou ter dado um guião à rapariga ou optado por outro desejo que ela disse (segundo ela haviam mais desejos mas o da bolsa foi o que ficou).
E claro que o povo revolta-se com a maneira que ela disse as coisas e prontos. shit happens :) eu tb quero uma viagem ao mundo, ganhar o euromilhões, etc etc
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