quinta-feira, dezembro 13, 2012

Avó Cristina


Desde o Verão aguardei um telefonema da partida já anunciada, sempre na esperança de não o receber até o Natal. A reunião da família acabou por acontecer precocemente, a meros 15 dias das celebrações natalícias. Mas foi como tudo deveria ser. Houve tempo para todos se prepararem, foi previsível e sereno. Mas não foi, nem nunca será fácil. Na qualidade de Mãe, esposa, avó, tia e amiga, ninguém lhe conseguia apontar um defeito ou uma qualidade menos boa e foi isso que todos se lembraram nos últimos momentos. 
Estando longe da família todo o ano, deixo a ilha sempre com aquele receio de quando voltar as coisas não estarem como as deixei, de alguém já cá não estar como antes. Por isso, tento sempre guardar na memória as últimas imagens daqueles que, pela ordem natural das coisas, poderão já cá não estar no meu regresso. E recordo-me com clareza de ter estado sentado na beira da cama e da Avó saber que estava doente mas de não saber com o quê exactamente e de falar que devia ter o mesmo que a Tia Matilde e que uma prima que eu não conhecia. Sem nunca mencionar a palavra, ela sabia o que tinha, apesar de querer acreditar que não era e que tudo ia melhorar, como tanto lhe diziam. E ela despediu-se de mim desejando uma boa viagem de regresso a Lisboa. E eu secretamente, desejei que não fosse aquela a última frase que ela me dizia. 

Não gosto da ideia de não voltar a comer o pão quente que ela própria amassava e que em criança me deixava fazer bonecos com a massa, nem da canja que eu repetia 3 vezes todos os Natais por achar que mais ninguém a fazia tão bem. Foi no Natal de 2008, o único Natal que não passei com a minha família, que me apercebi, num telefonema seu na véspera de Natal, que eu não poderia passar mais nenhum Natal longe dos meus. Foi aí que percebi a força da união da família e que tive dificuldade em conter as lágrimas que não queria que ela percebesse. 

Era com imenso orgulho que dizia a toda a gente que tinha o privilégio de ter os meus 4 avós e agora não tenho mais. Mas continuo a considerar-me um sortudo, não apenas por ter tido a Avó Cristina na minha vida, mas por ter uma família unida e que se ama, independentemente das formas de manifestação de cada um.

E não quero saber se foi o coração ou se foi o cancro que te traiu. 
Estarás sempre no meu coração.

2 comentários:

Anónimo disse...

gorgeous. Puseste-me achorar no meu trabalho lol :/ bjs da caroxa

Anónimo disse...

Como sempre...palavras que dizem tudo!

dnesa