Estamos em crise.
Desculpem-me a novidade assim de repente, mas estamos mesmo em crise. E por hoje, vou tentar não falar do dinheiro que tenho na conta.
Estamos a viver uma crise de valores. Não é preciso ir muito longe ao longo das gerações, basta ir à dos nossos pais, aqueles que andam por volta dos 50's e 60's anos para perceber a reviravolta que isto deu. Não quero cair na desculpa gasta de que "antes é que era" e com isso desculpar a actual geração dos 20's. Algo está mal e urge apurar responsabilidades. Por esse motivo, apontamos o dedo uns aos outros, porque é sempre mais fácil atribuir as culpas ao vizinho do lado, sacudindo o pó do nosso capote imaculado.
Vivemos uma crise de educação e não me refiro aos jovens que dizem em programas de televisão que África é um país da América do Sul. Nunca o nosso povo foi tão letrado e qualificado e ao mesmo tempo, nunca os profissionais da educação foram tão criticados e espezinhados. Serei o único a ver a ironia da coisa? Mas não é isso que mais me preocupa. O problema é muito para além da educação escolar. O "Por favor" foi trocado por um franzir de testa e um retorcer dos lábios. O "Obrigado", quando existente, passou a ser uma formalidade mecanizada, desprovida de qualquer tipo de conteúdo, uma palavra vazia, porque por vezes, "tem de ser" utilizada. O "Desculpe" tirou férias, hoje somos todos pessoas maravilhosas que não cometem erros e que possuem o dom da razão. Somos pessoas exigentes e com pouco tempo. Queremos tudo para ontem e não admitimos que nos questionem porque estudámos e temos um bocado de papel timbrado que nos custou umas dezenas de euros e que diz ao mundo que somos formados nalguma porcariazinha para esfregar na cara uns dos outros. Deixámos de cumprir horários e o atraso já é assumido mesmo antes da hora marcada. Os compromissos deixaram de ser cumpridos e quase ninguém termina o que começou.
Estamos também em crise de afectos. Já ninguém abraça ninguém como se realmente sentissem. O calor sincero do abraço foi trocado pela palmadinha nas costas e o beijo já nem é com os lábios, é com a bochecha, porque somos pessoas que merecem recebe-los. Dá-los é para os outros. Deixámo-nos ficar debaixo de uma nuvem negra onde o nosso umbigo tem sempre menos cotão que o do outro e a nossa cabeça, de tão inchada, deixou de passar nas ombreiras das portas. Assim, ficamos fechados em casa, quietinhos, à espera que dêem pela nossa falta, porque somos anjos preciosos que estão sentados no sofá com a televisão ligada, à espera que nos batam à porta com um trabalho maravilhoso ajustado às nossas capacidades ultra-especiais, com um amor que vimos um dia nos filmes, com um sonho que sonhámos, mas que queremos que chegue numa encomenda do correio.
"Se é para acontecer, pois que seja agora"
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