Hoje não sei se foi um bom dia ou não. Uma estranha embriaguez tomou conta de mim. Sinto o calor de um verão indeciso que me atravessa a alma. No entanto, por muito poético que possa parecer o apelo da alma, hoje não é um dia de profundas reflexões, como disse, sinto-me embriagado. Atravessei a cidade à hora de ponta numa carruagem de metro estranhamente vazia com uma revista na mão e dei por mim a ler parágrafos vãos, e agora, nem me consigo lembrar sobre o que falavam. Não devia ser nada de interessante certamente. Perdi o meu fio de pensamento ao sair na estação do Rossio, voou pelos céus da Praça da Figueira.
Meti à chave à porta em casa e respirei fundo. Tinha chegado a casa. E a casa, inundada de flores e música francesa, transportou-me para o mundo que eu ansiei todo o dia. Não sabia que era isso que eu desejava, mas ao respirar o ar da Sé percebi de imediato. Debrucei-me na janela e chamei o Tiago para correr até mim. Tinha de partilhar com ele as andorinhas nas traseiras da Sé. Eram dezenas e eu nunca me tinha apercebido da trajectória que descreviam nos céus.E que felizes são elas a morar neste recanto de Lisboa. E por minutos, fiquei a olhar para elas, neste final de tarde inesperadamente nostálgico, como se toda a minha vida tivesse parado para admirar as andorinhas. Mas não. E o vôo das andorinhas, misturado com a história dos azulejos circundantes, as torres da Sé Catedral e a música francesa a ecoar na sala de estar, tornaram o meu final de tarde leve, sereno e apaziguador.
Hoje, durmo com as andorinhas.
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