segunda-feira, setembro 30, 2013

Sea Lion Man

Hoje vi um senhor a nadar. Mas não era um senhor qualquer. Este senhor tinha um bigode que parecia uma escova para carpetes. Apesar do peso de baleia azul, o bigode assemelhava-o a um leão marinho, apesar deste ser um eufemismo pouco lisonjeador. Não fosse já essa imagem o suficiente, quando ele tirava a cabeça da água para respirar, parecia estar a pedir que lhe lançasse um peixe. E eu ri-me imenso para dentro e um bocadinho para fora, um riso impossível de conter, até porque eu tinha mesmo a possibilidade de lhe lançar um peixe... de plástico. Tive de parar de rir sozinho,  conter-me para não ir buscar o peixe e pensar numa possível medicação, porque uma mente como a minha está certamente à beira de um colapso. Mas lá vou sendo feliz no meu mundinho de estupidez.



Eu é que sou o Presidente da Junta


Hoje fui exercer o meu direito de voto, algo que não acontecia há cerca de 6 anos. Não que eu não quisesse ter participado nas últimas duas eleições para Primeiro-Ministro, mas porque para o fazer teria de me deslocar ao Funchal. E após cinco anos nesta cidade que tanto gosto, pude finalmente ter voz activa no seu futuro, apesar de já todos sabermos o quão avassaladora seria a vitória do António Costa. Eram 9h quando encontrei o local de voto na Rua dos Bacalhoeiros. Não estava mais ninguém, era muito cedo e a minha ex-freguesia é pequenina, não deve ter muitos votantes.
Ninguém, mas ninguém me tira da cabeça que o Rui Moreira é o Phill Dunphy do Modern Family e o António Costa o Dr. Hibbert dos Simpsons. E foi com esse pensamento que fui dormir.

domingo, setembro 29, 2013

Livro de Reclamações


Hoje, em três conversas diferentes falei da pouca tolerância das pessoas nas mais variadas situações do dia-a-dia. E eu próprio cheguei a uma conclusão: eu também sou uma pessoa intolerante. Sou intolerante à intolerância. Sim, é contraditório, e pode levar-me a deixar de suportar a minha própria pessoa. Mas vá, é a intolerância que eu mais tolero. Tendo um trabalho que me obriga a lidar com muitas pessoas a todo o momento, há-que tomar uma dose cavalar de paciência ao pequeno-almoço que persista até ao final do dia. Há quem reclame porque está frio ou calor, porque ora querem assado, ora querem cozido, porque faz sol ou faz chuva, porque querem ir para a esquerda ou para a direita, porque se faz ou não se faz, porque se diz ou não se diz. E a minha reclamação é a seguinte:

PÁREM DE RECLAMAR GRATUITAMENTE, POR FAVOR!

Há pessoas que devem sonhar à noite sobre as reclamações, críticas ou queixumes que pensam fazer logo pela manhã. A começar no trânsito, com a impaciência de quem está inevitavelmente entalado à hora de ponta numa manhã de chuva, onde obviamente, todos se lembram de sair de carro, e mesmo assim acham que apitar desenfreadamente vai fazer os carros da frente desaparecer como por magia. E a buzina de um automóvel tem o mesmo efeito que um despertador pelas 6h da manhã, estraga qualquer possível bom humor que pudesse existir na manhã de uma pessoa. Depois as pessoas que não podem esperar como todas as outras pela sua vez num café, num supermercado, numa loja, num departamento das finanças, e que julgam ser detentores do super poder da presunção que as faz merecer ser atendidas primeiro por terem uma vida muito preenchida. Temos ainda os ultra-conservadores, resistentes a qualquer tipo de mudança que assumem que "antes é que era". Mas esquecem-se que antes caçávamos o próprio jantar, que queimávamos na fogueira quem não acreditasse em Deus, que o conceito  de higiene era um banho semanal, que ir virgem para o casamento era quase uma lei, que farmácia se escrevia com "ph" e que para comunicar com pessoas longe de nós implicava escrever uma carta e esperar dias a fio para receber uma resposta que esperávamos não se perder no caminho. Mas o ontem parece ser sempre melhor, com a censura do Estado Novo, os poços de lavar roupa à mão, as saias pelos tornozelos e as aulas de Power-Jump, Body-Attack e Body-Combat, agora trocadas por umas horripilantes aulas, em quase tudo iguais. 
Sou apologista que possamos ter uma voz activa, que possamos reclamar quando tem de ser, que não nos conformemos com as imposições dos outros, mas tenho dificuldade em compreender qualquer tipo de crítica que não tenha um carácter construtivo. Sejam críticos, primeiro de tudo, convosco próprios. Depois questionem o que vos rodeia, até porque a evolução não acontece sem interrogações. Não suporto a arrogância da crítica fácil e gratuita. Apresentem, procurem soluções, ou simplesmente aceitem novas realidades. Dois dedos de humildade nunca fizeram mal a ninguém e muitas vezes poupam um embaraço desnecessário. 

E das três conversas que tive hoje com amigos e colegas sobre o assunto, a última foi sobre uma reclamação que fizeram sobre mim, envolvendo empurrões e agressões. Pelo menos é o que está escrito. O que vale é que já ganhei alguma tolerância à estupidez humana e já não vivo na época do "olho por olho, dente por dente", porque se assim fosse, alguém bateria com os dentinhos no lancil do passeio.

Agora é hora de ir dormir que amanhã tenho de acordar cedo para ir votar e assim, poder reclamar daqui a uns meses das pessoas que elegi para Presidente da Câmara e Junta de Freguesia. Porque bons ou maus, os políticos serão sempre alvos fáceis de uma ira de um povo que gosta de trabalhar 5 horas por dia, com direito a hora de almoço e dois intervalos para café. 

Ups, cá estou eu a ser irónico.
Pronto, já está. Não doeu.





sexta-feira, setembro 27, 2013

Bela Adormecida



Passei toda a minha vida a fazer piada com a minha mãe por adormecer em qualquer sítio onde se senta. Todos os dias, depois das tarefas domésticas feitas, sentava-se no sofá para ver a telenovela, algo que quase nunca chegava a acontecer.  Vi-a adormecer em diversos sítios e ocasiões inusitadas. Assim de repente, lembro-me de um almoço de Natal em Santana e de pelo menos duas missas do Galo, o que demonstra que a Julianinha não precisa de um sofá para entrar no mundo dos sonhos, até um frio e duro banco de igreja serve para tal efeito. Enfim, os belos momentos galhofeiros que a Julianinha proporciona em público, alguns deles devidamente registados em fotografia. Fotografadas estão também as maravilhosas sestas do Avô Zeca, outro elemento Espírito Santo que não resiste a uma(s) boa(s) passagem pelas brasas onde se senta, normalmente com a dentadura quase a cair. 
Mas o karma é lixado, e o universo tratou de me castigar por todos esses momentos de zombaria. E agora, eis que me descubro a ser o representante desta linhagem. Consigo adormecer em todo o lado, em qualquer casa, qualquer assento, em qualquer ocasião. Deixei de ir ao cinema frequentemente, não pelos bilhetes terem aumentado os preços nos últimos tempos, mas porque existe 90% de chances de eu adormecer. À custa dessa maldição, não consegui ver nenhum "Harry Potter", os dois primeiros do "Senhor dos Anéis",  "As Horas" tentei umas 5 vezes sem sucesso, o mesmo número de vezes que tentei ver o "Dancer In The Dark", mas à quinta consegui. Podia enumerar mais alguns (muitos) filmes que não consegui passar dos 10 minutos, mas estou a ficar com sono. Quando tenho de acordar às 6h, e não são poucos os dias,  não descanso enquanto não sei onde e quando terei a oportunidade de dormir uma sesta para poder aguentar o dia inteiro. Antes vivia pensando que dormir era um desperdício de tempo de vida, agora vivo sonhando com momentos livres para dormir. A fotografia desta publicação não é recente, tem três anos, quando ainda morava na Madalena e adormecia com o computador ligado ao colo, e prova que também existe quem me fotografe em momentos de vulnerabilidade. E bem sei que isto acontece por ter muitas vezes um dia agitado e desgastante, mas esta semana, em apenas três dias, consegui combinar dois jantares em minha casa com amigos e adormecer em ambos no sofá por volta das 23h. Até que os convidados me acordaram para se despedirem. Sou uma Paula Bobone no que toca a receber pessoas em casa, um requinte. 
Sou ao mesmo tempo, uma Bela Adormecida dos tempos modernos.



domingo, setembro 22, 2013

Caixa Alfama 2013


Este ano não fui ao Super Bock, ao Sudoeste, nem sequer ao Optimus Alive. Mas fui ao Festival de Fado. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Troquei as esperas de horas sentados no chão à espera do início do primeiro concerto para guardar bons lugares à frente, por uma cadeira a uma distância que não me permitia ver as caretas da Gisela João. 
De costas para o rio e para a lua quase cheia,  de frente para uma Alfama iluminada, um pouco mais inundada do que o normal pelos trinados de guitarras, a noite começou com a Gisela, por quem me apaixonei à primeira  vez que ouvi uma música dela. Não conhecendo mais nada do seu repertório, sorvi o concerto com a alegria de quem ouve música boa pela primeira vez. Depois, já sem a responsabilidade de uma estreante, a Ana Moura, encheu a plateia com a sua elegância e a voz grave de quem já alcançou e sedimentou o seu lugar na música deste nosso país. Não cantou o "Fado da Procura" nem o "Até o Verão", mas eu cantei-as à mesma na minha cabeça. Dispensei o Camané e esperei pela noite de Sábado. Numa noite já não tão quente, a bairrista Raquel Tavares abriu as hostilidades com o sangue na guelra de quem vive (em) Alfama. Dedicou uma música às pessoas de Alfama e eu demorei alguns segundos a perceber que aquela também seria para mim! Cuca Roseta foi uma agradável surpresa, já que não a conhecia. Terminado o seu concerto, corri com a Sofisabel para as filas da frente à espera do Zambujo e a sua lambreta. "Algo estranho acontece" quando aquele homem começa a cantar. A sua voz inebria sem entediar, encanta, embala-nos, põe-nos com um sorriso bobo na cara. Uma delícia.

E mais uma vez, senti uma comichãozinha boa na barriga por viver nesta cidade e nestes bairros antigos, por sentir-me parte das 1001 histórias que eles têm para contar e por me saber fadista, à minha própria maneira.