sexta-feira, setembro 27, 2013

Bela Adormecida



Passei toda a minha vida a fazer piada com a minha mãe por adormecer em qualquer sítio onde se senta. Todos os dias, depois das tarefas domésticas feitas, sentava-se no sofá para ver a telenovela, algo que quase nunca chegava a acontecer.  Vi-a adormecer em diversos sítios e ocasiões inusitadas. Assim de repente, lembro-me de um almoço de Natal em Santana e de pelo menos duas missas do Galo, o que demonstra que a Julianinha não precisa de um sofá para entrar no mundo dos sonhos, até um frio e duro banco de igreja serve para tal efeito. Enfim, os belos momentos galhofeiros que a Julianinha proporciona em público, alguns deles devidamente registados em fotografia. Fotografadas estão também as maravilhosas sestas do Avô Zeca, outro elemento Espírito Santo que não resiste a uma(s) boa(s) passagem pelas brasas onde se senta, normalmente com a dentadura quase a cair. 
Mas o karma é lixado, e o universo tratou de me castigar por todos esses momentos de zombaria. E agora, eis que me descubro a ser o representante desta linhagem. Consigo adormecer em todo o lado, em qualquer casa, qualquer assento, em qualquer ocasião. Deixei de ir ao cinema frequentemente, não pelos bilhetes terem aumentado os preços nos últimos tempos, mas porque existe 90% de chances de eu adormecer. À custa dessa maldição, não consegui ver nenhum "Harry Potter", os dois primeiros do "Senhor dos Anéis",  "As Horas" tentei umas 5 vezes sem sucesso, o mesmo número de vezes que tentei ver o "Dancer In The Dark", mas à quinta consegui. Podia enumerar mais alguns (muitos) filmes que não consegui passar dos 10 minutos, mas estou a ficar com sono. Quando tenho de acordar às 6h, e não são poucos os dias,  não descanso enquanto não sei onde e quando terei a oportunidade de dormir uma sesta para poder aguentar o dia inteiro. Antes vivia pensando que dormir era um desperdício de tempo de vida, agora vivo sonhando com momentos livres para dormir. A fotografia desta publicação não é recente, tem três anos, quando ainda morava na Madalena e adormecia com o computador ligado ao colo, e prova que também existe quem me fotografe em momentos de vulnerabilidade. E bem sei que isto acontece por ter muitas vezes um dia agitado e desgastante, mas esta semana, em apenas três dias, consegui combinar dois jantares em minha casa com amigos e adormecer em ambos no sofá por volta das 23h. Até que os convidados me acordaram para se despedirem. Sou uma Paula Bobone no que toca a receber pessoas em casa, um requinte. 
Sou ao mesmo tempo, uma Bela Adormecida dos tempos modernos.



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