Hoje, em três conversas diferentes falei da pouca tolerância das pessoas nas mais variadas situações do dia-a-dia. E eu próprio cheguei a uma conclusão: eu também sou uma pessoa intolerante. Sou intolerante à intolerância. Sim, é contraditório, e pode levar-me a deixar de suportar a minha própria pessoa. Mas vá, é a intolerância que eu mais tolero. Tendo um trabalho que me obriga a lidar com muitas pessoas a todo o momento, há-que tomar uma dose cavalar de paciência ao pequeno-almoço que persista até ao final do dia. Há quem reclame porque está frio ou calor, porque ora querem assado, ora querem cozido, porque faz sol ou faz chuva, porque querem ir para a esquerda ou para a direita, porque se faz ou não se faz, porque se diz ou não se diz. E a minha reclamação é a seguinte:
PÁREM DE RECLAMAR GRATUITAMENTE, POR FAVOR!
Há pessoas que devem sonhar à noite sobre as reclamações, críticas ou queixumes que pensam fazer logo pela manhã. A começar no trânsito, com a impaciência de quem está inevitavelmente entalado à hora de ponta numa manhã de chuva, onde obviamente, todos se lembram de sair de carro, e mesmo assim acham que apitar desenfreadamente vai fazer os carros da frente desaparecer como por magia. E a buzina de um automóvel tem o mesmo efeito que um despertador pelas 6h da manhã, estraga qualquer possível bom humor que pudesse existir na manhã de uma pessoa. Depois as pessoas que não podem esperar como todas as outras pela sua vez num café, num supermercado, numa loja, num departamento das finanças, e que julgam ser detentores do super poder da presunção que as faz merecer ser atendidas primeiro por terem uma vida muito preenchida. Temos ainda os ultra-conservadores, resistentes a qualquer tipo de mudança que assumem que "antes é que era". Mas esquecem-se que antes caçávamos o próprio jantar, que queimávamos na fogueira quem não acreditasse em Deus, que o conceito de higiene era um banho semanal, que ir virgem para o casamento era quase uma lei, que farmácia se escrevia com "ph" e que para comunicar com pessoas longe de nós implicava escrever uma carta e esperar dias a fio para receber uma resposta que esperávamos não se perder no caminho. Mas o ontem parece ser sempre melhor, com a censura do Estado Novo, os poços de lavar roupa à mão, as saias pelos tornozelos e as aulas de Power-Jump, Body-Attack e Body-Combat, agora trocadas por umas horripilantes aulas, em quase tudo iguais.
Sou apologista que possamos ter uma voz activa, que possamos reclamar quando tem de ser, que não nos conformemos com as imposições dos outros, mas tenho dificuldade em compreender qualquer tipo de crítica que não tenha um carácter construtivo. Sejam críticos, primeiro de tudo, convosco próprios. Depois questionem o que vos rodeia, até porque a evolução não acontece sem interrogações. Não suporto a arrogância da crítica fácil e gratuita. Apresentem, procurem soluções, ou simplesmente aceitem novas realidades. Dois dedos de humildade nunca fizeram mal a ninguém e muitas vezes poupam um embaraço desnecessário.
E das três conversas que tive hoje com amigos e colegas sobre o assunto, a última foi sobre uma reclamação que fizeram sobre mim, envolvendo empurrões e agressões. Pelo menos é o que está escrito. O que vale é que já ganhei alguma tolerância à estupidez humana e já não vivo na época do "olho por olho, dente por dente", porque se assim fosse, alguém bateria com os dentinhos no lancil do passeio.
Agora é hora de ir dormir que amanhã tenho de acordar cedo para ir votar e assim, poder reclamar daqui a uns meses das pessoas que elegi para Presidente da Câmara e Junta de Freguesia. Porque bons ou maus, os políticos serão sempre alvos fáceis de uma ira de um povo que gosta de trabalhar 5 horas por dia, com direito a hora de almoço e dois intervalos para café.
Ups, cá estou eu a ser irónico.
Pronto, já está. Não doeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário