Hoje tenho um desabafo e não é por algo que tenha acontecido hoje ou ontem, mas sim nos últimos meses da minha vida:
Estou cansado de pessoas azedas.
E estou rodeado delas - no trabalho, nos grupos de amigos e conhecidos, nas redes sociais, nos cafés e restaurantes. A insatisfação e o mau humor tornaram-se mais virais que a gripe no inverno e o azedume tornou-se a epidemia da década. A reclamação gratuita tornou-se o prato da casa por todos acharem que merecem ser tratados de forma muito superior àquela que são tratados. Porque acham que o café está demasiado cheio, porque querem ser atendidos primeiro do que todos os outros, porque não lhes responderam no tom que acham conveniente. Sou a favor de se reclamar quando existem efectivamente razões para isso mas não consigo deixar de sentir vergonha alheia quando estou nalgum sítio com alguma pessoa conhecida e esta começa a reclamar com um empregado numa loja, um condutor ou peão na estrada ou até com outro amigo que esteja connosco, por algum motivo que eu considero descabido. Sim, é verdade que cada um atribui a importância que deseja a cada circunstância, mas o que me preocupa é a falta de leveza, de compreensão, de diálogo e muitas vezes, de educação.
A agressão deixou de ser física.
Todos vivemos tempos de crise, os impostos aumentam, os ordenados diminuem, os negócios fecham, os amigos emigram em busca de um futuro melhor e é normal existir uma nuvem negra sobre as nossas cabeças, mas sinceramente, para mim já bastam as nuvens negras reais deste inverno chuvoso. Ainda me lembro da primeira coisa que aprendi na Universidade, dita por uma professora quase da minha idade, de que quanto mais aprendermos, mais perceberemos que não sabemos nada, de que não existem verdades absolutas e que o que está certo hoje amanhã pode estar errado. Se calhar levei isso demasiado a sério e hoje consigo aceitar melhor a mutabilidade das coisas à minha volta, e por esse motivo não consigo compreender nem lidar bem com "tomadores" de decisões irrevogáveis e detentores de todas as certezas do mundo.
Cansei-me de "grumpy cats" que vêem o mundo a cinzento e que acordam a pensar sobre o que irão reclamar primeiro, de velhos do Restelo que antevêem finais trágicos para qualquer decisão que o vizinho da frente tome em prol da sua felicidade, de burros velhos que teimam em não aprender línguas, de destruidores de sonhos.
Isto é uma emergência.
O meu conselho:
- aprendam a parar de vez em quando para cheirar as rosas.
- encorajem aquele amigo ou familiar que está na dúvida se dá um passo em frente ou se fica no mesmo sítio.
- aprendam a usar mais o reforço positivo nas vossas intervenções, sejam elas numa conversa de café ou a comentar publicações na internet, tornar-vos-á pessoas mais bonitas.
- aprendam a ver o copo meio cheio, não precisam conformar-se com a mediania, mas é importante ter a humildade de aceitar que podemos não atingir tudo aquilo que desejaríamos na vida.
- abracem as pessoas que gostam e oiçam-nas com real atenção.
- aprendam a respirar - breathe in, breathe out, breathe in, breathe out, é fácil.
- brinquem mais em vez de reclamar "só porque sim". E mesmo que tenham razão para reclamar, será que valerá mesmo a pena?
Ontem disseram-me que nunca me tinham visto chateado e que não faziam ideia de como seria eu aborrecido com a vida. Respondi-lhe que também me chateio algumas vezes, simplesmente não gosto de gastar energia com pequenices mundanas e talvez por isso nunca me tenham ouvido reclamar de alguma coisa concreta ou gritar palavrões aos sete ventos. E sim, eu também reclamo de muita coisa mas vida tem-me dado demasiadas dicas para aproveitá-la da melhor forma possível, tirando partido das pequenas coisas e dos momentos soltos que vou tendo aqui e ali. Tenho duas formas de olhar para as coisas que me acontecem na vida: por um lado, consigo esgrimir argumentos reais que façam a minha vida parecer um imenso caos, uma tragédia grega, um inferno incessante. Por outro, também consigo relatar acontecimentos e momentos que me fazem pensar que sou a pessoa mais feliz e sortuda à face da terra. É tudo uma questão de perspectiva, e eu prefiro claramente a segunda.
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