Deixa cá ver:
o sol já apareceu e já não preciso de cinco casacos para andar de mota, as flores começam a nascer e as árvores com os primeiros rebentos. Já fui até à praia e usei óculos de sol. Ainda não vi as primeiras andorinhas, mas também não tenho olhado para o céu. As osgas da Sé ainda não apareceram também, mas já devem ter desovado portanto as mini-osgas devem estar para breve. Claro que o universo gosta de brincar com as pessoas e tratou de terminar o Inverno com um "Indian Summer" e começar a Primavera com um "Foggy Day in London Town". Consegui espalhar-me ao comprido com a lambreta por causa dos primeiros chuviscos após umas semanas de secura numa espécie de "Hit The Road Jack". Mas vá, oficialmente a Primavera chegou e pretendo começar a usá-la o quanto antes. Não hoje, que queria ir ao Bairro Alto brindar à nova estação, mas com chuva não vai dar. É um jogo.
Entretanto, parece que hoje é o dia mundial da Poesia, e aproveitando esse pretexto, a chegada da Primavera e as boas notícias que recebi hoje, relembrei um dos meus poemas favoritos, declamado desta forma maravilhosa. E fico em paz.
Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma
Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.
Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
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