segunda-feira, outubro 20, 2014

Notícias da Sé



Nunca privei tanto com a ex-vizinha, also known as "Megafone", como agora que já não estamos separados apenas por uma parede. Primeiro porque precisei guardar umas coisas em casa dela, depois porque a encontrei no festival de fado em Alfama, depois numa rua da Baixa e agora porque voltei a sua casa para ir buscar umas coisas que ainda por lá andavam guardadas. Em todas elas conversámos mais do que em qualquer momento dos últimos 3 anos. E o que eu andei a perder.
Graças a ela sei que a minha antiga casa já tem novos inquilinos, falam com um sotaque esquisito, são franceses. Sei que a "mai nova" quer entrar para os escuteiros mas como ela não gosta de igrejas provavelmente não fica lá muito tempo, para além de que os uniformes ainda são caros. Sei onde ela trabalha e que acorda todos os dias às 4h da manhã. Sei que por cima dela alugam a casa a turistas e que os espanhóis costumam ser muito barulhentos e tocam piano a altas horas da noite e que os chineses, ou pelo menos aqueles com olhos rasgados são muito bem comportadinhos e que não andam a correr pela casa fora. Sei que já fez férias em Espanha várias vezes e que o seu marido lhe pede para fazer menos barulho para não incomodar as pessoas dos quartos do lado, ao que ela responde "Já não posso falar sequer?". Pois. Sei que antes a entrada para o prédio se fazia pela rua do Barão e havia muitas escadas até chegar ao seu andar mas que um dia um antigo inquilino fechou o acesso às escadas e passou a ter entrada apenas pela Travessa, isto sem lhe ter perguntado primeiro a opinião. Pelo meio diz umas asneiras mas pede logo desculpa por estar a dizê-las. 
Todo um universo que andei a perder nestes 3 anos.
Uma vez do bairro, para sempre do Bairro. Sou seu fã.






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