Após uma viagem com alguns sobressaltos em que eu e a minha mala
fomos revistados em 5 momentos diferentes, chegámos a Varanasi! De volta à
Índia para continuar a aventura por terras asiáticas, esta era a cidade que à
partida criava mais apreensão. Rapidamente percebemos que já não estávamos no
Nepal, voltámos às regras de trânsito “cada-um-por-si”, mas nós já estávamos
vacinados das cidades indianas anteriores. Chegámos ao final da tarde e já não
havia muito para fazer, pensámos nós… mas vai que afinal hoje é uma noite
bastante especial. É a noite em que se celebra o “Dev Deepavali”, também
conhecido como o “Festival das Luzes”. É uma celebração hinduísta que tem lugar
todos os anos na lua cheia do mês hindu de Kartika e que acontece 15 dias
depois do “Diwali”, festa que quase fez com que não conseguisse o visto na
embaixada em Lisboa. Acredita-se que os deuses hindus descem à terra para se
banhar nas águas do rio Ganges nesta noite e por essa razão as pessoas procedem
a vários rituais, nomeadamente tomar banho no rio e lançar velas acesas ao rio,
o que torna o cenário mágico. E quando dizem que este é o festival das luzes
eles falam mesmo a sério. Os prédios estão todos decorados com luzinhas, as
escadarias das ghats (escadas junto ao rio onde se fazem os rituais) estão iluminadas
com milhares e milhares de vasinhos de barro com óleo e um pavio que abrilhantam
a festa, o fogo de artifício não para de ser lançado (o cuidado a ligar com
pirotecnia é parecido ao cuidado no trânsito, é tudo ao desbarato mas ninguém se magoa), as velas
são lançadas ao Ganges por onde passam centenas de barcos, muitos deles também iluminados com luzes, cheios de pessoas de um lado para o outro.
A sensação de fazer parte desta festa imensa é indescritível, há sempre alguma coisa a acontecer à nossa volta, não sabemos para onde olhar, para onde ir, o que fazer. Apetece furar as multidões, interagir com as pessoas, partilhar a sua alegria, fazer parte de todo aquele caos maravilhoso. Como nos disse ontem a senhora israelita no Jardim dos Sonhos em Kathmandu, Varanasi é uma cidade completamente surrealista e apocalíptica e esses adjectivos, que me pareciam exacerbados, correspondem completamente à realidade.
É uma celebração tão, tão, tão bonita e tivemos o privilégio de fazer parte dela sem sequer imaginar que teríamos isto tudo à nossa espera.
Hoje durmo de coração cheio.
Sem comentários:
Enviar um comentário