quinta-feira, novembro 20, 2014

Dia 12 - Dia de Contemplação em Varanasi

Mais um dia em Varanasi, mais uma madrugada. Desta feita para começarmos com uma aula de yoga com o Somit no terraço do Yoga Education Training Center às 6h da   manhã para aproveitarmos as boas energias do amanhecer. Apesar de não ser a minha primeira experiência de yoga, é quase como se fosse. E desta vez em plena Índia onde nasceu o yoga e onde esta prática é vivida com uma espiritualidade muito mais vincada. O Somit explicou-nos abreviadamente a diferença entre algumas vertentes do yoga e disse que nos ia dar alguns exercícios, com excepção do yoga tantra, o que achei indecente porque esse daria um jeito do caneco para futuros desempenhos tântricos aqui do Peter. Dos movimentos feitos, gostei particularmente da "dança do Shiva", muito bonita de olhos abertos, um autêntico desastre quando pediu para fazermos de olhos fechados. Depois pediu uma posição que supostamente ajudaria a limpar o nosso interior, o que eu achei lindamente tendo em conta que ando dopado por causa das dores de cabeça e da barriga revoltada. Eu, todo orgulhoso com a minha flexibilidade lancei-me logo ao exercício para mostrar que conseguia, o que acontece é que eu já não sou menino para grandes torções, e a minha hérnia diagnosticada por mim, deu sinal, daqueles em que tenho de ficar paradinho na posição em que estou senão parece que estou a ser apunhalado por 385 facas de cozinha em simultâneo. E eu fiquei estático numa posição ridícula e dali não conseguia sair. Foi bastante triste. Assim o Ruben teve espaço para brilhar sozinho. Quando a minha lombar permitiu, continuei a aula mas com o devido respeitinho  para não me partir todo de vez. Mas vá, correu bem no geral. Depois pequeno-almoço no terraço e abalámos para o maravilhoso hotel (NOT) para tomar um banho de água quente (NOT) no nosso quarto cheio de luz natural e janelas (NOT). Fomos dar mais um passeio pelas ghats, desta vez para o lado oposto do dia anterior. A minha dor de cabeça continuava latente e o mal estar geral estava relativamente controlado, mas o meu corpo continuava a mover-se em câmara lenta. Mesmo quando vivemos um agradável momento junto à uma ghat onde fazem as cremações. Já depois de termos passado por ela, resolvi tirar uma fotografia ao longe, sabia de antemão que não se deve fotografar ou filmar nestas zonas específicas por uma questão de respeito para com os mortos e as famílias e por achar que já estava a uma distância suficiente para não ferir susceptibilidades, tirei uma fotografia. Depois virei logo as atenções para uma vaca que estava a tomar banho no rio apenas com a cabeça de fora e passados uma minutos apareceu um homem que nos veio falar de forma bastante aborrecida por estarmos a tirar fotografias. O Somit já nos tinha falado que junto a este crematório existia uma espécie de máfia que está feita com os policias locais e que tramam os turistas com uma pinta descomunal. Este homem disse que nos ia levar à polícia e tal e tal e tal. O Rúben resolveu argumentar e eu em modo lesma decidi afastar-me. O homem acabou por desistir. Há cerca de um mês e meio um casal de estudantes alemães viveu uma situação parecida que envolveu a polícia a tirar-lhes os passaportes enquanto não pagassem 200 euros, valor completamente irrealista para uma multa aqui na Índia, valor que eles não tinham com eles. Para azar dessa máfia organizada, um deles era filho(a) de um político alemão que contactou a embaixada que por sua vez contactou a polícia e que desmascarou a situação, mas isto foi tudo abafado para não passar para o exterior. Felizmente já estávamos avisados que isto pudesse acontecer e não foi grande surpresa a abordagem do indiano, mas pus a minha cabeça a prémio desnecessariamente. 
À tarde voltámos ao Yoga Center, desta feita para massagens. Não quis deixar de aproveitar, já que os preços são bem menores que os preços de Portugal e porque tudo o que gastamos ajuda no projecto do Somit que trata de recolher crianças da rua, levá-las para o Yoga Education Training Center e dar-lhes cama, comida e educação. Qualquer pessoa pode ajudar ou tornar-se voluntário de uma forma mais directa, interagindo com as crianças ou ensinando-lhes alguma coisa que possa ajudá-las a crescer de uma forma mais saudável e construtiva. Pareceu-me um projecto bastante honesto e já que o nosso tempo está contadissimo, apenas ficamo-nos pela ajuda indirecta, gastando algum dinheiro nos serviços que eles têm. A massagem soube-me lindamente e ao final do dia já não tinha sinais de dores de cabeça e o apetite havia voltado. Saí de lá bastante alinhado e o Rúben também, que esteve uma hora a levar com um fio de óleo na testa e a alinhar os chacras. E mesmo com a minha lombar K.O. a aula de yoga foi mais eficiente que activia, fica a dica, Júlia Pinheiro.








À noite, novo passeio pelo Ganges, coisa que não conseguíamos fazer em segurança nas outras cidades por onde andámos. Deitei uma velinha ao rio, tinha de o fazer. E com um propósito, fazia um mês que o avó Andrade faleceu. Não foi a homenagem que ele mais gostaria, mas foi a possível. E claro, foi sentida.





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