Hoje o dia começou bem cedo. O despertar foi às 5h já que às
5h45 tínhamos um condutor de táxi à nossa espera para nos levar até ao tão aguardado Taj Mahal.
Chegámos à entrada do Taj Mahal e já havia uma fila enorme na bilheteira,
felizmente tínhamos comprado o bilhete ontem no Agra Forte e tivemos apenas de
nos posicionar na fila. Fomos logo dos primeiros, e uns 3, 4 minutos depois a
fila já tinha um tamanho infindável. Existem 4 filas, duas para homens, 2 para
mulheres, 2 para turistas, 2 para indianos. Em todo o lado se sente a diferença
das castas, é um pouco agoniante sentir que nós somos considerados
imediatamente um povo superior ao deles, mas o facto é que isso parece não os
afectar, já que nos respeitam imenso e não demonstram revolta com isso. Mas é
tão desconfortável sentir isso. A entrada no Taj Mahal requer o cumprimento de
uma série de regras, e para meu infortúnio, e do Rúben que teve de esperar por
mim, eu não cumpri uma delas, já que levava o braço extensível da GoPro que
pelos vistos é proibido. Mandaram-me sair para ir a um sítio com cacifos onde
podia deixá-lo. Estava uma fila gigantesca, portanto meti-me por um jardim
dentro e apesar de haver indianos em toda a parte a toda a hora, tentei
esconder o braço da máquina no meio do jardim e voltei a correr para o Taj. Eu
e a minha mochila tivemos de voltar a passar no raio-X e à minha frente estava
um rapaz que teve o mesmo problema que eu com o mesmo acessório. Provavelmente
acharam que podíamos começar à paulada com ele, sei lá. Lá entrei e comecei a
visita. Foi com um friozinho na barriga que atravessei a porta de acesso aos
jardins que antecedem o Taj Mahal. Depois de pormos os olhos nele é difícil
conseguir desviar o olhar para qualquer outro lugar. É uma sensação quase
familiar, aquela de entrar num sítio que estamos habituados a ver na televisão
e nos livros desde miúdos, apesar de estar num contexto tão distante do nosso
contexto ocidental. O nascer do sol no meio da neblina tão característica torna
o momento ainda mais inesquecível, a geometria, o detalhe, a perfeição, tudo
parece estar certo naquele lugar. Toda a gente fica doida a tirar fotografias,
eu próprio, queria ter a certeza que teria uma boa fotografia naquele sítio
maravilhoso e quase andava à pancada com o Rúben, e ele comigo, para tirarmos
boas fotografias um ao outro. Acho que temos algumas jeitosas.
Curiosamente, e depois de já ter visto tanta coisa na Índia,
não achei o interior tão espectacular como noutros monumentos funerários, mas o
biombo com jalis de mármore bate qualquer outro. O que é mesmo avassalador é o
monumento em si. É incrível.
Ao andar nos espaços circundantes uma rapariga ao ver-nos a
tirar selfies perguntou se queríamos que nos tirasse uma fotografia em
português. Soube tão bem ouvir a nossa língua, até agora só tinha acontecido no
Forte Amber em Jaipur, mas não contava já que eles eram claramente indianos que
vivem em Portugal, não tem a mesma piada. A rapariga estava com um rapaz, o
namorado, julgo eu, que era o rapaz que estava na fila à minha frente com todos
os acessórios da GoPro. Mundo pequenino este. Trocámos dois dedos de conversa e
eles deram-nos o contacto do sítio onde vão ficar em Goa, em cima da praia, se
correr tudo bem, seremos vizinhos de cabana lá e festejaremos o aniversário da
Maria com sotaque português.
Depois tive de voltar ao jardim, esperando que nenhum
indiano tivesse feito xixi no arbusto onde escondi o braço extensível, eles
mijam em todo o lado, daí um dos cheiros característicos das ruas indianas ser
o de urina. Felizmente estava sequinho, debaixo de umas folhas que eu rezei
para que não tivessem cobras. Depois de
ter visto ao longe a cabeça de uma cobra capelo a sair de um cesto ao som de
uma flauta em Delhi, ontem dois putos andavam com cobras dentro de um cesto a
mendigar e eu devo ter dado a entender que não estava a gostar da brincadeira,
já que ele enfiou-me o cesto com a cobra pelo tuk-tuk adentro, mas eu não cedi
e ainda assim poupei-lhe os dentinhos todos. No entanto não houve um poro da
minha pele que não se tivesse arrepiado. Depois lembrei-me do Tiago e pensei
que a esta hora o miúdo estaria a ser lançado ao rio Ganges caso lhe tivesse
feito o mesmo que fez a mim.
Enfim, depois voltámos ao hostel, tomámos o pequeno-almoço e
o taxista pegou em nós e iniciou a jornada que teria de terminar no aeroporto
de Delhi. Primeira paragem, Sikandra.
Sikandra é uma pequena vila nos arredores de Agra e é onde o
imperador mongol Akbar está sepultado. Akbar era filho de Humayun, cujo túmulo
já havíamos visitado em Delhi e que achei deslumbrante. Pois o do filho não
fica nada atrás. O túmulo fica no centro e está rodeado de jardins murados,
divididos em quatro através de sistemas de passagens elevadas, bosques
desnivelados e canais. Nesses bosques vimos imensos antílopes negros que vivem
nesses bosques circundantes e um ou outro macaco, mas esses é normal andarem em
todo o lado. Fiquei apaixonadíssimo com os mosaicos das fachadas, com cores e
padrões que eu achei maravilhosos.
Mais à frente o nosso taxista/guia parou em Mathura, um
sítio que tínhamos ponderado passar mas que tínhamos desistido da ideia
entretanto. É uma cidade conhecida por ser o berço do Deus Krishna e o taxista
disse-nos que para entrar no templo hindu tínhamos de deixar as câmaras no
carro senão não entrávamos. Eu, desconfiadinho como sou, fiquei mortinho para que a visita acabasse porque só
pensava que tinha dado o iphone a um homem que não conhecia de lado nenhum e
ele se quisesse ia-se embora com ele e com as malas. Mas mais uma vez,
pelo 6º dia consecutivo (todos,
portanto) o universo provou-me que devo confiar mais nas pessoas, todos os dias
a minha confiança nas pessoas indianas foi posta à prova das mais variadas formas
e todos eles mostraram merecer a minha confiança. Penso que esta ansiedade é
normal para nós ocidentais, que estamos cheios de vícios e preconceitos, já que
os nossos novos amigos portugueses do Taj Mahal e um casal francês no hostel
referiram sentir o mesmo. A Índia a ensinar coisas ao Pedrinho. O Rúben bem me
perguntava porque é que eu parecia não estar a gostar do templo, não lhe quis
dizer que estava apreensivo por termos confiado tudo o que tínhamos à excepção do
passaporte e dos cartões que trazemos sempre connosco a um homem completamente
desconhecido e eu disse-lhe que me sentia cansado, mas ele vai acabar por ler
isto e perceber que não era esse o motivo. De qualquer modo, e correndo o risco
de irritar os Deuses hindus, não achei piada ao templo. De espaço de meditação
não tinha nada, toda a gente falava alto, havia música indiana aos berros,
enfim, é a religião mais divertida que conheci até hoje, porque em vez de
missas, silêncios e sofrimentos, eles parecem estar sempre em modos de arraial.
Eu já ia arder no inferno cristão, agora
vou arder no hindu também.
Ainda antes de Delhi parámos junto à estrada para almoçar no
sítio com menos condições que comemos até agora, mas a fome era tanta que quase
lambi os dedos no final. Até agora está tudo bem, comidas picantes, algum mal
estar quando é exagerado, mas nada de problemas alimentares.
Agora estou a empanturrar-me de chocolates no aeroporto de
Delhi, preparando-me para uma bela noite nas cadeiras do aeroporto, já que
ficaremos aqui das 18h (hora a que chegámos aqui depois de uma viagem de táxi
que quase nos tirou a vida em 294 momentos diferentes) até às 10h55, hora do
próximo vôo. Vamos embora da Índia. Por agora.
Sem comentários:
Enviar um comentário