sábado, abril 12, 2014

PES vai a Concertos III - Silence 4



E com uma semana de atraso, aqui fica a minha espécie de crónica musical do último concerto a que assisti. 
E como escrevi há exactamente 7 dias, horas antes do evento, tratou-se do concerto dos Silence 4 na MEO Arena. Durante os seus anos de ouro não tive oportunidade de os ver apesar das suas músicas terem acompanhado a minha conturbada adolescência cheia de hormonas e dilemas emocionais. Graças ao meu irmão, que comprou o "Silence Becomes It", conheço de trás para a frente todas as músicas desse álbum, já o "Only Pain is Real", apesar de ter o álbum todo o meu iPod, algumas músicas são-me quase desconhecidas. Felizmente os fãs dos Silence 4 não são tão jovens nem tão groupies como os da Beyoncé, o que me permitiu não ir para a fila muitas horas antes das portas abrirem. De qualquer modo, como sempre, não estava nos meus planos ficar lá para o meio da plateia da arena. A fila da frente não era uma necessidade doentia, mas posso dizer que ficar a menos de dois metros da grade foi um privilégio gigantesco. Avisei a Mariana, que veio da Madeira de propósito para o concerto, que eu pretendia cantar tudo bem alto e que a minha afinação podia não ser a melhor, mas ela rapidamente acalmou essa minha preocupação afirmando que também estava nos seus planos fazer o mesmo. Menos mal. 
Vou começar pelo global: o concerto foi fabuloso!


Surpreendentemente (ou talvez não), lembrei-me das letras quase todas e apesar do "Borrow" ter sido provavelmente a mais cantada pelo pavilhão, eu estava realmente à espera do "Angel Song". Como já se sabia, o motivo da reunião deles deveu-se essencialmente à finta que a Sofia Lisboa fez à leucemia. Eu já sabia com toda a certeza que o momento em que eles cantassem essa música ficaria com aquele "nó na garganta", mas tornou-se num momento ainda mais emocional quando a Sofia referiu antes da música que pensou que podia não estar ali para a cantar. E de repente os versos "Hello, don't be scared, I want you to know you're not dead" tomaram toda uma nova dimensão. Foi bonito demais. Em forma de agradecimento à irmã, que foi a sua dadora de medula, a Sofia cantou ainda o "Invincible" dos Muse, música que a irmã a pôs a ouvir um dia num momento delicado do processo de tratamento em que as forças lhe começavam a faltar. Foi uma bonita celebração da vida, e como eu gosto dessas celebrações.


Com cadeiras pelo ar, um carro suspenso e um farol, encheram o palco e reavivaram as memórias que guardo de muitas músicas que foram cantadas ao longo da noite. Por alguma razão peregrina, nunca me tinha perguntado de quem seria voz no "Sextos Sentidos", mas a ausência dessa resposta deveu-se essencialmente a uma monumental desatenção, porque a voz do grande Sérgio Godinho é inconfundível, mas contra toda a ordem natural das coisas, só comecei a conhecer a sua obra tardiamente, quando já não ouvia Silence 4 com frequência. Servirá de desculpa? Assim sendo, quando o Sérgio Godinho entrou para cantar com eles, foi uma grande surpresa para mim. 



E o David Fonseca, enfim, continua com aquela voz maravilhosa e com aquele geniozinho musical que me faz acompanhá-lo de perto até hoje. Vibrei com "My Friends", "Breeders", "To Give", "A Little Respect", "Old Letters", "Goodbye Tomorrow" e esgotei a minha voz a um ponto que já não acontecia há anos. Com a garganta arranhada e a alma cheia, fui para casa entorpecido e felicíssimo.
Com uma média de um concerto por mês, este ano promete bastante no que toca a concertos. Próxima paragem:

Caetano Veloso.

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