segunda-feira, abril 28, 2014

"The Race is Long and in the End it's Only With Yourself"


Uma das realidades mais cruéis com a qual tive de aprender a lidar ao longo da minha vida é o facto de que a minha felicidade não deve depender de outras pessoas. 
Tudo é muito mais fácil quando temos alguém para nos levantar quando caímos redondos no chão ou para aparar os golpes de uma qualquer briga de rua. Mas ninguém disse que tudo ia ser fácil. 
É importante sabermos ultrapassar os obstáculos por nós próprios, sem depender das ajudas de outras pessoas, e quando o fazemos, o nosso peito engrandece por termos conseguido fazê-lo com as nossas próprias mãos. Em miúdo era muito fácil ir a correr agarrar-me às saias da minha mãe quando o escuro da noite me assustava ou quando algum amigo meu me magoava nalguma brincadeira maliciosa, mas cedo percebi que nem a minha mãe nem o meu pai poderiam ser a salvação para todos os meus problemas. Eles não estavam comigo quando encontrei um cão que me fez paralisar na rua quando ia a caminho da escola e que me fez chegar atrasado e lavado em lágrimas à sala de aula. Não estavam comigo quando o Óscar (nunca me esqueci do nome dele) me empurrou a cabeça para debaixo de água numa aula de natação durante um tempo indefinido que para mim pareceu uma eternidade. Não estavam comigo quando fui motivo de chacota por alguns colegas de turma que me fizeram sentir a pior pessoa do mundo através daquilo que hoje se chama "bullying". Não estavam, não podiam estar e ainda bem que assim foi. Eu precisava passar por isso sozinho, tal como eles e todas as pessoas devem ter passado. Não me queixo de ter tido uma infância difícil, nem de ter tido mais ou menos problemas que todas as outras pessoas, passei pelas situações que devia ter passado, ponto. 
Já mais crescido e continuo a aprender a viver sozinho. Aliás, continuo a tentar aprender a viver sem colocar a decisão de ser feliz nas mãos de outras pessoas, o que não é fácil, porque as coisas sabem tão melhor quando são partilhadas e já escrevi isso uma quantidade infinita de vezes. 
A dependência é um cancro. É algo que me assusta e me consome só de pensar na sua presença. "A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo". Sempre gostei da clarividência do Fernando Pessoa. 
Talvez por isso eu tenha chegado àquilo que sou hoje, alguém que procura a felicidade nos recantos mais inóspitos. Talvez por isso eu tenha abraçado a ideia de viajar sozinho para outras cidades. Talvez por isso goste de vaguear nas ruas sem destino. Talvez por isso eu suba montanhas que não conheço. Talvez isso justifique a minha vontade de estar sozinho e não querer entregar-me a ninguém. Talvez tenha medo. O medo, sempre o medo.

E é verdade, tudo sabe melhor quando partilhado. 
Mas preciso (continuar) a aprender a estar só. Ser dono do meu castelo.

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